top of page

Poesias

Luz de Dor 

 

A dor de minha pobre alma

Não passa de uma flor a desabrochar ao luar

A lua com sua formosura, 

Ilumina minhas pétalas de angústia 

 

O que me sustenta é a escuridão da madrugada,

Com a escassa luz das estrelas 

 

Posso contemplar a solidão

Pois sei que os únicos com similaridade a minh'alma vivem distantes

Em outra dimensão 

 

O que me resta é viver as custas de minha nebulosa impotência.

                                                                                         (Lorena Gal)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Corvos Negros

 

Eis que os corvos estão a voar sobre as almas fétidas 

Alastradas por toda a terra,

Vagando em corpos ainda vivos 

 

Olhos vazios

Sem brilho, 

Não transmitem frio nem  calor

 

(Eis que os mornos, vomitarei de minha boca)

 

Os corvos, negros.

Enviados do hades

Para devorar as pobres putrefatas

 

O que fazer? !- Perguntou eu a essência das coisas-

 

Eis que os corvos, já estão a voar sobre as almas fétidas.

                                                                  (Lorena Gal)

.

Entre Bosques e Segredos

 

Estive passeando pelos bosques vizinhos

E no caminho, as árvores me contaram um segredo

 

Disseram-me ter um pouco de minh'alma ,

E referiram-se a mim como ''eu''

 

Agora vejo-me diante dos berros dos vivos 

E dos sussurros dos mortos 

 

Sempre foi tão claro não é mesmo? 

Nós que vivemos a  tapar os ouvidos 

Com nossos egos imbecis e inquietos

 

Cala-te e ouça, o que as  árvores tem a dizer.

                                               (Lorena Gal)

 

 

 

 

 

 

"To elevate the soul, poetry is necessary" 

Edgar Allan Poe

 

"A poesia é mais fina e mais filosófica do que a história; porque a poesia expressa o universo e a história, somente o detalhe"

Aristóteles

 

"Fazer poema é como expor o coração a visitação pública."

Daniel Fiúza 

 

"Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas"

Federico Garcia Lorca

 

"Fazer poesia é confessar-se"

Friedrich Gottlieb Klopstock

 

"Um poema é um mistério cuja a chave deve ser procurada pelo leitor"

Stéphane Mallarmé

 

"Um poeta é um mundo encerrado num homem"

Victor Hugo

 

"O poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir é  dor que deveras sente"

Fernando Pessoa

 

"A poesia é aquilo que sei, sem saber o que é"

Artemisa Ferreira 

 

"Ninguém doma o coração de um poeta"

Augusto dos Anjos

 

"A poesia é o pulsar, em nós, das emoções divinas"

Brígido Ibanhes 

 

"Mas o que eu vou dizer da poesia? O que vou dizer destas nuvens do céu? Olhar(...)e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da poesia. Nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é poesia.

Federico Garcia Lorca 

 

 

 

 

Oxalá

 

Oh céus !

Eu clamo por misericórdia 

 

Minha alma segue afita nos caminhos tortuosos da vida 

Com medo das sombras mentirosas perante as verdades intrínsecas 

 

Por que tudo isso  ?!

 

Todo esse mal , 

Essa bagunça dentro de mim ..

 

Tudo gira em círculos intermináveis 

E estar nessa roda  é como beber cicuta ou outro veneno de sábio . 

 

A não existência já se fez impossível , 

O que me resta é compreender-me 

E caminhar incansavelmente em busca de Deus .

                                                        (Lorena Gal)

Líquido do cálice de ouro

 

Gozo vermelho,

Que invade o meu corpo e me deixa em êxtase

 

Minha glória se torna quando estou hipnotizada

Transporta minha alma  para o lugar de onde veio 

 

Só tu tens esta capacidade,

Oh líquido do cálice de ouro !

 

Quando em sua presença estou, 

Me vejo molhada, 

Arquejando de prazer solitário 

 

O estrume humano não poderá me deter , 

Se eu me tornar assim ...

Gozada eterna 

Gozada pelo líquido vermelho 

 

Meu noivo será e me terá a noite inteira 

Se derramará em mim e eu me deixarei vulnerável

 

Que perigoso és!

Nos traz alegria e uma possível vergonha 

 

Isso me excita...

Me faz querer mais...

Muito mais !

 

Ver minha face refletida em sua paz e calmaria 

Minhas confusões se dissiparem

Por apenas poucos instantes...

 

Deixe-me beber-te por inteiro

Que todo o cálice dourado fique marcado por meus lábios sedentos 

 

Me dê prazer 

Deixe minha língua roxa

Minha boca corada 

E meu corpo em um pós-gozo 

 

Quero você até a última gota 

Oh sim ....

Você, que habita no cálice de ouro !

                                 (Lorena Gal)

Homens irracionais 

 

Selva

Cheia de gente.

De gente que não é gente

 

Guiados pelo instinto da sociedade

Se tornam inúteis aos olhos de Deus 

 

Vulneráveis a ideias insanas e chavões 

Gostam de julgar e apontar seus dedos sujos uns nas caras dos outros 

 

Sexo errado...

Sujo, inconsciente 

Sexo que gera frutos dignos de pena 

 

Mundo cruel , que se esqueceu do É de Deus 

 

Visão deturpada e errada possuem , 

E insistem em passar de geração em geração 

 

Sorrisos falsos ,

De medo 

Covardes

 

Quero fugir de tudo,

Ser guiada por Deus 

 

Por favor, 

Necessito dos braços do Pai 

 

Estou sufocada 

Sangue brota dos poros do meu corpo 

Corpo pequeno 

Frágil 

Casquinha que Yhwh escolheu para que minh'alma habitasse 

 

Já não tenho medo desses animais selvagens 

Tenho medo das ideias de poucos 

 

Mas eles me entristecem...

 

Já que estou aqui , deixar-me-ei levar 

Permitirei que me toquem ,

Que olhem para mim

 

Vamos !

Devorem meu corpo !

Mas por favor, eu imploro :

Esqueçam minhas tripas,

Vão direto à meu coração!

                   (Lorena Gal)

50% VS 50%

 

 

Cansei de ser assim :

Cheia de compreensões e falsa paciência 

Eis que chegou o momento do desabafo 

 

Já escolhi as armas e vestes sacerdotais 

E gozei nas balas de ouro 

 

Quero penetra-las no cérebro de todos 

Ver o sangue escorrendo pela razão 

 

Sangue quente e borbulhante 

Lava vulcânica misturada com falsas ideologias 

 

Me tocarei com a batuta 

E quando esta estiver  molhada ..

Enterrarei na boca dos liberais !

 

Costurarei os olhos dos bestas com as páginas de meus livros ''inúteis''

 E os fios de minha calcinha vermelha 

 

Me chamaram de metade anja e metade diaba não é mesmo? 

Então agora aguentem minha parte diabólica ! 

 

Ela quer ver a ruína do mundo 

Ou apenas o descanso de minha pobre alma 

 

Já não saem lágrimas de meus olhos 

Mas sim vidro vermelho que contém todo o vácuo em sua essência .

 

Não tenham medo , apenas implorem a Deus por meu eu angelical.

       (Lorena Gal)

Setas do tempo 

 

Ontem eu me perdi de mim , 

Hoje eu não me achei, 

Amanhã perderei o que não achei...

 

Ontem eu perdi meu tempo,

Nunca vou encontrar, por isso não vou procurar 

Amanhã, bem ... Amanhã vou esperar 

 

Ontem eu perdi minha mente,

Hoje , aqui está mas diferente...

Amanhã ela mente 

 

Ontem será o hoje, 

O amanhã o depois, 

E o perder ... O viver !

        (Lorena Gal)

Sem potes e redes

 

Deixem!

Deixem que as borboletas voem e encontrem os mais belos jardins 

 

Suas asas dançarão em harmonia com os ventos 

E estes hão de uivar as maravilhosas melodias cantadas nos altos céus

 

Parem!

Parem de prender as borboletas!

De nada adianta deixar e prender 

Abra as mãos sem vontade de fecha-las

 

Essas pobres não foram feitas para potes e redes

Possuem espírito livre 

Vivem a eternidade intrínseca em cada segundo

 

Sejas tú, como elas

Amarela, azul ou negra

 

Encontre aquilo que te atrai

Dance (em harmonia) com aquele te leva

E voe.

Não permetindo potes e redes mortais!

                                                (Lorena Gal)

 

 

 

 

 

The prostitution's river

 

I can't understand the meaning of all this 

Everything is like a burlesque 

 

The life is a whorehouse 

Where we just can see a lot of hookers 

 

This people love the prostitution

And every day 

They walk on the streets so horny 

 

We have power ?!

The seduction is the force that move the life 

But, have a problem ...

After the gust, everything ends 

 

So...

What should we do ?!

Escape is a awesome idea !

But ... 

To where ? 

Where can we go ?!

 

Sometimes , I run and run ...

And all , as in vain 

I lost my energy.

Now, I'm like a bird drowing in the river 

 

Dark and dirty river...

Full of false policies 

And evil ...

 

I won't shout looking for help 

Because in this society,

Anyone will listen me !

             (Lorena Gal)

Roleta Russsa

 

A morte, à todos chega

De nada adianta alimentar o vão desejo da fuga...

Um por um, provará seu sabor

 

Disseram-me que ela é cinza,

Mas pouco me importa, 

Já que esta é uma de minhas cores favoritas

 

Alguns a descobrem nas guerras

Outros dormindo

E ainda há aqueles que preferem os próprios punhos cortar

Ou saltar com um colar em direção ao habismo

 

Simples...

Simplesmente assim:

O último suspiro

 

Os olhos que nos ligam com o mundo natural se fecham

E os espirituais se abrem

 

O descanço para alguns,

O desespero para outros alguns

 

Quando a roleta russa parará em minha boca?!

 

Um mistério...

Profundo e instigante mistério.

               (Lorena Gal)

No quarto de um hotel

 

Minhas lágrimas são como a chuva que cai na janela

Embaça a paisagem, tornando-a (mais) interessante

 

A gota quente escorre por minha face rubra e cansada

Enquanto minh'alma se contorce pela dor dilacerante

 

Ninguém pode escutar meus gemidos

E correr para me consolar...

Creio eu, que nem mesmo os seres celestiais desejam prestar-me socorro

 

Não possuo forças para lutar contra mim mesma

 

O medo dominou-me,

Sinto-me insegura e frágil...

 

Onde está minha Fortaleza?!

 

Meu corpo roda sob a cama branca, iluminada pela pouca luz do abajur marrom

 

Tudo está derretendo a meus olhos,

Inclusive as nuvens que choram lá fora

E alimentam os buracos na terra, formando poças cristalinas 

 

Já minhas lágrimas. alimentam as fronhas, antes, limpas, 

Pois já manchadas estão, por meu rímel borrado

 

Algumas lágrimas encontram o canto de meus lábios,

E eu sinto o salgado sabor de minha dor

 

Úmido e desnorteados se encontram os fios de meu cabelo,

Pois também foram, estes, alvo do choro dos céus 

 

Não sei o que fazer,

Já que o meu nome, eu mesma risquei da lista.

                                                  (Lorena Gal)

 

Quimic'almente errados

 

Cadeia homogênea 

Saturada por falta de conhecimento 

 

Suas ramificações são podres,

E nos falta oxigênio

 

As ligações são fracas

E em pouco tempo se desfazem 

 

Somos todos abertos, 

Mas as condições impostas nos tornam fechados 

 

Todos muito lineares...

Muito iguais 

 

Que os ''quaternários'' que surgirem 

Sejam apenas o compasso da música.

         (Lorena Gal)

Toco-te

 

Digo-te o que digo.

Minhas palavras  expressam em total gozo

Seus pobres significados

 

Sou poeta e preciso delas:

Aquelas pobres,

De significados que não significam nada

 

Chegou eu, ao "nada" (que te falei)

E tu me compreendes.

 

Finalmente....

Compreendes.

Aquilo que é incomprieensível 

 

Percebes então

Que toco-te.

Não com palavras.

 

Beijo-te com minh'alma

Um beijo suave

Que marcará (para sempre),

O teu ser.

(Lorena Gal)

 

 

Uma rocha

 

Uma rocha.

Fria,

Escorregadia,

Fechada em si mesma.

 

Sou parte de uma rocha,

Largada no mais fundo oceano

Sendo alisada apenas pelas águas escuras

Que não conhecem os raios de sol

 

Minha única companhia é a solidão

E as negras sombras de seu silêncio

Que sussurram-me  ''reticências'' seguidas por ''reticências''

 

Não penso por palavras

Pois estas, me limitariam a compreender

 

Então, fico lá...

Fico bem, (bem) pra lá.

No fundo, 

Sozinha. 

 

Vendo o que não pode ser visto;

Sentindo o que não se pode sentir;

Ouvindo o inaudível. 

 

Sou eu, uma rocha. 

E tudo aquilo que cabe ela a ser.

(o universo inteiro, resumido em suas inúmeras partículas)

 

Vivo, com plenitude, todos os meus limites.

(Lorena Gal)

Quatro horas da tarde

 

Havia uma menina

Que morava em um barraco

Às margens de uma linha férrea 

 

Todos os dias, ás quatro da tarde

A menina passava batom e perfume para ver o trem passar 

Subia naquilo que consederava ser o mais belo do barraco:

Um velho pé-de-laranja-lima

 

Os anos se seguiram 

Ninguém entendia o por quê da agora, moça, 

Trepar no pé, para nos mesmos horários, ver o trem passar

 

Julgando-a insana, a família resolveu mudar.

Compraram, então,  um outro barraco. 

Sem árvores e linhas férreas.

 

Não suportando sua saudade, a moça se matou...

Às quatro horas da tarde, de um dia qualquer.

 

Tempos depois, um senhor rico "comprou" o antigo barraco, e alguns outros terrenos, de agora "novos sem terra".

Logo mandou que cortassem o velho pé-de-laranja-lima para que contruíssem um edifício de luxo. 

 

Os trabalhadores assim o fizeram, no mesmo horário que a menina acabou com suas dores.

Também contruiram o edifício.

 

Havia um menino, 

Que morava em um edifício de luxo 

Às margens de uma linha férrea

 

Um belo dia, às quatro horas da tarde, 

Enquanto chupava uma laranja-lima, em seu momento de descanço das tarefas, 

Um trem começou a passar. 

 

O menino assustou-se com seus pensamentos profundos. 

Descobrira um dos grandes mistérios da vida. 

 

Pois assim como o trem, a vida é rápida.

Não sabemos exatamente onde começa, 

Nem mesmo onde termina, 

E o que ela carrega, é um grande segredo. 

(Lorena Gal)

Devaneio 

 

Nossa!

O sol está escorregando por detrás do morro

Se pondo...

Apagando...

Escurecendo as folhinhas ...

E deixando o morro escurecido...

 

A paisagem está meio  filme de terror,

O céu cheio de cores, 

(Será que alguém passou o dedo com aquarela pastel?)

 

Eu queria ser gigante e deitar nesse morro como que em um colchão

Respirar todo o oxigênio do mundo

Segurar o sol com as mãos 

 

Cobriria meu corpo com estrelas

Lavaria meus cabelos no oceano ártico

Meu batom seria o gozo dos vulcões 

 

Enfim,

Eu queria ser gigante...

(Lorena Gal e Aldo Magnolian)

 

"O Mundo é Um Moinho"

 

Palavras...

O vento as leva.

 

Amizades...

Romances...

Momentos...

O tempo os tomam .

 

Filosofias...

Músicas...

Vontades...

Se transformam.

 

Tudo passa,

Tudo muda,

Tudo acaba,

Oras, o que é eterno afinal?!

(Lorena Gal)

 

Ninguém vai ao Pai a não ser por Mim

 

A noite dá lugar a madrugada

Que por sua vez beija a face do amanhecer 

 

As energias esgotadas 

E o espírito estupefato 

Combinação perfeita para "o fazer" de versos melancólicos 

 

Passo a noite em claro,

Observo meus próximos ...

E  percebo o quão cegos espiritualmente estão

 

Minh'alma chora 

Quando minha visão foca-se nos que habitam no meu coração.

 

A cruz é o único caminho

Mas a eles uma nuvem cobre o monte do calvário

 

As luzes que os agradam, apenas piscam e se extinguem

Já a que me ilumina, envolve-me;

Inclusive enquanto passo pelo escuro deserto

Que levar-me-á à terra prometida.

(Lorena Gal)

Sem nome 

 

As garras pontiagudas procuram um corpo débil para que possam ser cravadas;

As línguas dançam como se estivessem num ritual,

Realizado ao som de pífaros 

 

Toque após toque, desnorteia 

Todos "se amam" desesperadamente 

E aos berros, sussurram por misericórdia 

 

Espasmos tornam-se em tochas abastecidas por azeite virgem 

E a luz é demasiadamente forte para os olhos coberto pelo véu vermelho 

 

As cordas (do piano) começam a se arrebentar

O que gera música decaída 

 

Cada corda que se arrebenta, é como o fio de cabelo cortado.

O fim do som é o fim da vida...

(Mas uma vez realizado, o som é infinito não é mesmo?)

 

Os pássaros cantam e anunciam o fim dos tempos:

As águas tornar-se-ão sangue vivo e os peixes serão trocados por larvas personhentas.

O céu chorará estrelas fumegantes

A lua e o sol iniciarão seus romances e esquecerão de suas tarefas para conosco.

 

Tudo desabará aos pés dos homens,

E estes, como sempre ignorantes (conhecedoresdobemedomal), continuarão a praticar suas orgias, 

Que por sinal,- descobrirão-

Não levam à orgasmo algum.

(Lorena Gal)

Save our Souls

 

Sim, me mostre sua face

Quero vê-la com meus olhos humanos

Mas se possível transforme minhas vestes em luz

E meu corpo em verdade

 

Por favor, não demore!

Não sei até quando poderei eu esperar

Se necessário, abrevie meus dias...

 

A curiosidade corrói a minha alma

Como ferrugem ao ferro jogado ao léu

Meu espírito geme quando recorda algo que nunca vivi!

 

Tenha piedade de mim, oh Salvador das almas!

Por mais insignificante que eu seja, olhe para mim e perdoe meus pecados

Que fazem sentir-me inútil e constrangida perante sua grandeza e exuberância

 

Sei que se meus olhos se encontrarem com os seus, serei sustentada pela eternindade

Entenderei o sentido da vida

E poderei compreender-me a ponto de juntar minhas partes confusas

 

Se eu não puder recebê-lo

Envie ao menos um mal'ak Yhwh

Para que me conte as boas novas

E me traga alegria!

 

Mas eu lhe imploro, oh Onipotente:

S.O.S !

(Lorena Gal)

Sei lá 

 

De tempos em tempos 

Olho para trás e procuro

Mesmo vetada pelas foscas águas da cascata da vida

Uma criança risonha e arteira com os joelhos ralados

 

Sei lá, sabe?

Sei lá...

Acho que me perdi de mim, e desde então nunca mais me achei

 

Me vejo sentada na calçada de uma rua mórbida 

Com o rosto apoiado nas costas das mãos 

Esperando aquela menina correr para meus braços e revelar que tudo não passou de um 'esconde-esconde' qualquer 

 

Mas não...

Quando enxergo o vulto da minha criança ,

Percebo-a muito bem onde está,

Virada de costas para mim

 

Ela não me quer... 

Teve a mim  enquanto se bastou

Na verdade, pouco se importa que eu a procure 

Afinal, ela já fez sua parte, não é mesmo?!

Que cada um faça o parto de si mesmo

 

O que faço eu, então?

Espero-a dar-se conta da minha presença?

Aceno? 

Revelo o que ela se tornou?! 

(esse ser fragmentado e contraditório, que outrora fora integral?)

 

Hesito...

Para quê tirar a paz da criança?

Seria o mesmo que pedir-lhe  um chute nas canelas

 

"-Deixe-a como está, minha cara! Há paz ali, não vês? Continue a dar seus passos tortos e cambaleantes! Aliás, que é que fazes tu?''

 

Ah... sim...sim...

Me desculpe, já ia me esquecendo...

O que faço eu, então?

 

Sei lá, sabe? 

Sei lá...

(Lorena Gal)

Promete?

 

Contar-te-ei um segredo,

Que não revelo nem para mim mesma...

Sinto saudade.

Sim...

Pior que sinto

Mas "shh", hein?!

Silêncio.

Foram os cem  graus do momento

Impulso...

O 'it' da C.Lispector, sabe?

(A fusão do humano com o não-humano)

Pecado.

Proibido.

Ilegal.

Imoral.

Foi digno de um dos cantos do inferno de Dante!

Guarde só pra si,

Promete?

Confio em você, então.

Na verdade, nem pense nele

Dizem que os maus espíritos escutam nossos pensamentos e depois nos tentam...

Mas enfim...

Bom mesmo é saber que embora com saudade,

Prefiro que a saudade continue sendo saudade

Deixo-a viva.

Gélida e só, lá no cantinho...

Não quero e não vou matá-la.

(Lorena Gal) 

 

 

Amar...

É vencer a si mesmo

Negar suas vontades

Impulsos e razões

 

Amar é irritante.

Mas também é inevitável;

Inevitavelment irritante

 

Amar é aprender 

Que dois mais dois não são quatro

São três, dois, um, dez e mil

 

Amar é poesia abstrata 

Porém também é concreta

Endente-se apenas dentro de si mesmo 

 

Amar é difícil.

Compreender, 

Estar junto, 

Perdoar...

 

Aliás, amar é perdoar

Ter misericórdia e lembrar-se no momento da ira

Que um dia você amou 

 

Amar é simples e complicado.

Ama-se com tapas e beijos...

Ama-se longe e perto...

Ama-se em guerra e em paz...

Ama-se.

 

Amar, 

Único verbo capaz de se estender a muitos,

Muito outros..,

(Lorena Gal)

 

 

Cabo de Guerra 

 

Eu sou um castelo

Em cada aposento vive uma alma 

As miseráveis são tão indelicadas e sem educação

Que nem mesmo esperam a vez para falar

Berram todas ao mesmo tempo 

Umas tem cinco anos, 

Outras cinquenta

E há também as que nem nasceram ainda 

Ou estão em período de gestação

Umas são santas

Outras putas

Umas rezam por ti, 

Outras fazem-te carinho

As terceiras ou quartas te chupam

Não é justo!

Sou  quebrada em mil pedacinhos! 

Um piano desafinado

Igreja com apenas uma torre e sem vitrais 

Minha muralha é contruída e destruída

Dia após dia

Sou como Penélope que tece durante o dia

E desfaz de noite

-Entendo-a perfeitamente- 

Sou o barulho  o silêncio

O tapa e o beijo 

O apertado e o frouxo

O rápido e o lento

O que entra e o que sai

O que fica e o que transcede

O gato e o rato...

AH!

Você também é assim? 

Você também se contradiz? Sabe o quão difícil é não chegar a um acordo consigo mesmo? 

Whitman quem gostava disso.

Eu não. 

Ou sim?...

Sou ambidestra na alma 

Escrevo com uma mão e me mastrubo com a outra

Sou de marte e de vênus

Sou a perfeita imperfeita

O seis e o sete

O um e o dois

O macho e a fêmea,

A que come e que é comida

A que lê e a que é lida,

Amo e detesto.

Sou  pianíssimo e  fortíssimo

Sou a implosão e a explosão

Sou Mozart e Beethoven

Eu sou eu,

Tu,

Ele,

Nós,

Vós,

Eles.

 

Lorena Gal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entendo um pouco daquilo que não deveria ser entendido

Nada entendo daquilo que todos conhecem 

Inocência massacrada 

Suja de sangue seco 

Com cheiro de rosas podres 

Vida pertubada por anjos e demônios 

Os males que nos fazem vem e vão, 

Assim como as carícias,

Que sempre são inconstantes 

E assustam a mimm e aqueles que tem medo de se entregar ao amor 

Meu coração sangra constantemente 

Alguma substância alquímica que nunca cessa

Sinto-me em cima de uma linha fina 

Estendida diante do cosmos 

Apenas um passo e prende-se a respiração para manter o equilíbrio 

Coloco minha alma nas coisas 

Seja num poema sem inspiração 

Ou num beijo cheio de tesão 

Só não consigo colocá-la dentro dela mesma 

Pois ela foge

Assim como a chama de uma fogueira 

Que enquanto é, 

Praticamente, 

Já foi...

Sou a iludida desiludida 

Que chora carvão 

E banha-se com veneno.

 

Lorena Gal 

 

Bicho Papão 

 

Aprendi que perder  nem sempre é pior 
Que chega uma hora que o adeus é necessário 
Que uma briga acaba, posteriormente, unindo
Que o pior no momento, pode ser o melhor no futuro 
Que a vergonha pode nos salvar
Que uma lágrima pode regar uma flor...
Aprendi que as coisas passam 
Inclusive a alegria
Que os livros acabam, mas permanecem em algum lugar de nós 
Que o melhor beijo é o que fica com um gostinho de quero mais

Que as pessoas que mais nos machucam são as que mais amamos 

Que todo deserto tem um oásis...
Aprendi que ser desprezada nem sempre é ruim, 
Se você for esperto, torna o desprezo em gasolina para a vida
Que um simple abraço pode consolar 
Que as pessoas são cascas grossas com carnes macias
Que de fato, Deus escreve o certo por linhas tortas 
Que chega um momento que a música termina ...
Aprendi a  dizer não quando preciso
A dizer sim quando possível

A sorrir para mim mesma na frente do espelho
 A apreciar minha própria companhia...
Aprendi que antes de buscar no outro, devo buscar em mim mesma 
Que antes de olhar  a bagunça do mundo devo olhar a bagunça de meu próprio quarto 
Que para amar o próximo eu preciso (antes)  amar a mim mesma ...
Aprendi a admitir que tenho medos 
E que meus medos são na verdade, o bicho papão da minha infância 
Ou seja, 
Aprendi que -sim-,
Dá pra superar. 

 

Lorena Gal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lua, não te cansas?

Pela perpetuação dos séculos você se encontra sempre reluzindo

Quantas milhares de pessoas te olharam com lágrimas nos olhos?

E contaram-te segredos seguidos de segredos?

Quantos foram os que só a ti tiveram  para desabafar? 

E abafaram os gemidos sob seu luar? 

Lua, a tua luz é um bálsamo gélido e consolador 

Faz desabrochar todas as nossas angústias e confusões

Dá-nos respostas com esplendor

Tu és silenciosa e amiga 

Misteriosa e reluzente

Digníssima de possuir os segredos de todos

Para cada um és a velha conselheira

Todos de conhecem

Todos te viram

Todos te deslumbram  

És de todos 

E ao mesmo tempo 

És única como só tu sabes ser 

 

Lorena Gal

Rabiscos 

 

Eu gosto mesmo é de um problema

O que seria da vida sem um dilema? 
Sem um disse que me disse
Sem um proibido 
Sem um "não conta pra ninguém"
Eu gosto de problemas fresquinhos 
Recém saídos do forno 
Daqueles que nos fazem perder o sono 
Chorar deitados no chão do banheiro 
Olhar pro futuro e ver tudo nublado 
Enquanto eu admito o meu gosto duvidoso 
Meu Saturno solta um belo de um riso e me manda beijos
(se é que Saturno sabe sorrir e mandar beijos)
E eu fico assim, 
Meio pra lá meio pra cá
Como as pessoas com problemas ficam 
Olhar meio vago 
Tudo meio sem cor 
Estado melancólico
Suspiro profundo a cada cinco minutos...
E quer saber? 
Todo mundo gosta 
De uma briga de gato e rato 
Um pique e pega 
Polícia e ladrão 
Afinal, qual o primeiro desenho que fazemos na vida e todos elogiam? 
Um amontoado de rabiscos sem começo nem fim.

 

Lorena Gal 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Atrai-me Senhor...

Atrai-me, meu Salvador...

Gloriosa Majestade,

Beleza Permanente,

Atrai-me.

Meu coração viverá inquieto

Se em ti não descançar,

Atrai-me. 

Fizeste-me para Ti, 

Toma-me.

Diga apenas uma palavra e tudo se fará novo 

Tu és o Senhor do mares,

Da terra, dos céus...

Grande Dominador Eterno, 

Atrai-me.

Acalme minh'alma aflita 

Dê-me água da vida

Tenho sede da Tua justiça

Ajude-me a andar sobre as águas

Desejo à seu encontro caminhar

Atrai-me. 

Permita-me aos menos tocar nas tiras de Suas sandálias 

Necessito de apenas um toque... 

Um toque na fronte

Aceita-me como sua

Abraça-me com Sua ternura

Atrai-me

Guia a tua pobre serva pelas veredas da justiça,

Pelo Amor de Seu Nome.

Atrai-me. 

 

Lorena Gal

 

Prece de Belarmina 

 

Levo o sertão no peito

As rachaduras da terra, no meu coração 

O velho gado na alma 

E a pouca chuva que me escorre pela mão 

Levo a rapadura no bolso 

A tristeza mantenho-a ali 

Minha vida é dura e amarga 

Não tenho tempo para sorrir

 

Entrego-te meu filho,

Cuide bem dele, por favor!

Que ele tenha uma vida tranquila

E que os anjos clamem à seu favor  

Diga-lhe que "mainha" o ama 

Amei-o no ventre

Para sempre o amarei 

Que a aroeira cante cantigas

Para ninar meu pequeno rei 

 

Chora  minha pobre alma 

Água pouca que a minha terra quase não vê

Diga-o, por favor!... Que o amo!

De fato o amei e o amarei 

 

Há no meu seio um espaço 

Que preenchido nunca será 

Guardado para o doce sorriso 

-De meu filho amado-

Que não poderei desfrutar 

 

Pai nosso, que vive no céu! 

Fortalece esta mãe solitária que vaga perdida pelo triste sertão 

Clamando pelo filho querido- menino esperto 

O qual não mais a verá 

 

Por último Senhor, Deus meu 

Rogo-te que me ajude a para trás não olhar 

Para não morrer com a dor 

Pois meus filhos tive que dar

 

Lorena Gal 

Mata-me ou deixa-me viva? 

 

Amo-te e sinto que perco-te a cada novo instante 

Fabulosamente majestosa, a saudade vindoura já sussura sobre ti

Do amanhã, joga suas sombras no meu coração e mente

E eu agora, no nosso presente 

-Presente humano, em frente ao passado e de costas para o futuro-

Choro com minhas  memórias 

Escapa-me por entre os dedos.

Es tu o sopro e eu o catavento

Sei que constróis uma cortina de ferro a cada vez que me olha nos olhos 

E eu, na ansia de tocar-te a alma 

Pixo-a (desesperadamente) com rosas e espinhos 

Estás apegado ao medo

De querer-me ou deixar-me 

Estou para ti entre a vida e a morte 

Como um pavil de vela semi-aceso 

Ou semi-apagado,

Depende do ponto de vista...

E o ponto de vista, meu bem , 

É seu. 

 

Lorena Gal

O que é que eu vim fazer aqui?!
Escrever meu nome num prato, 
E lançá-lo contra a parede? 
Pintar um belo quadro, 
E cobri-lo com lençóis? 
Escrever músicas belas,
E jogar as partituras numa fogueira? 

 

O que é que eu vim fazer aqui?!
Contemplar as flores, 
E colhe-las dos campos? 
Maravilhar-se com o canto dos passarinhos, 
E prendê-los em gaiolas? 
Nadar com peixinhos coloridos, 
E pescá-los por diversão? 

 

O que é que eu vim fazer aqui?! 
Sentar-me no banquete mundano 
E rejeitar toda a comida? 
Amar a Cristo, 
E crucificá-lo dia após dia? 
Provar excruciantes contradições , 
E não poder solucioná-las tão logo quanto me aparecem? 

 

Oras, me diga!
O que é que eu vim fazer aqui?!
Pouco me importa se o sol tornar-se-á gelo
E o mar, lago de fogo, 
Que a águia rasteje e as cobras criem asas!
Preciso apenas de uma singela resposta 
Pois inquieta-me o espírito diante desta questão 
E agita-se a água do meu coração 

E então?...


O que é que eu vim fazer aqui? 

 

Lorena Gal

Minha vida está como um velho banco de piano 
No meio de uma rua escura e vazia 
Esperando apenas que uma boa alma o retire dali 
E o coloque na frente do piano 
Para que alguém possa assim, 
Tocas belas melodias 
E sentir-se cheio de vida 
E feliz, talvez...
Mas não 
Ele continua ali
No meio 
Da rua 
Escura 
E
Vazia 

 

Lorena G.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Já foi visto? 

 

Caminho em direção à uma porta 

Estendo a mão para girar a maçaneta,

Me detenho. 

Não entendo -de fato- o porque de ter parado a ação...

Creio que a porta ao lado pareceu-me igualmente atraente. 

Olho a minha volta vagarosamente 

Franzo o cenho e mordo os lábios...

Pensei que tinha alguém ao meu lado (...)

Porém, cá estou só. 

 

-Suspiro-

 

Caminho em direção à uma porta

Estendo a mão para girar a maçaneta,

Me detenho...

Viro a face, 

Franzo o cenho e penso: 

"Hum... Déjà vu?'

 

Lorena Gal

 

 

Sou a água parada. 
Mancinha,
Pouquinha, 
Rasinha,
Que logo evapora. 

Sou-por completa- o oceano, 
Bravinho, 
Cheinho, 
Fundinho,
Mas que te devora. 

 

Lorena G.
 

Sabes, é possível enxergar cores de olhos fechados ...

Digo-lhe a verdade, pois sou profetiza. 

Para ver, basta abertura...

-Mas não dos olhos. 

É um tipo de abertura interna-

E um pouco de luz, de preferência a natural. 

Tão logo quanto um suspiro 

As cores começam a se movimentar por entre as pálpebras.

Primeiramente, mesclam-se entre azul e lilás e depois entre vermelho e amarelo. 

É incrível ver as cores de olhos fechados! 

Elas se movimentam e aparecem em círculos que aumentam e diminuiem...

Elas também vibram! 

Hoje mesmo o azul vibrou pra mim,

E o vermelho carmesim.

Quando os olhos naturais se abrem novamente, as cores da realidade nos parecem saltar, e por uma fração de segundo parece que você as entende. 

É muito bonito!

...é possível enxergar cores de olhos fechados....

Lorena Gal

Se vais me beijar, beija-me loucamente 

Se estás comigos, estejas completamente 

Se me queres, queira-me inteiramente

Não aceito meias palavras, um pouco, um terço, a metade...

Ou seja lá o que for!

O que não possuo,

Desprezo. 

Lorena Gal

Sou a deusa do amor deitada a luz das estrelas 

De olhos semicerrados. 

Só não tenho a coragem de te contar quantos foram os dramas 

-e comédias- 

Que escrevi para você encenar 

Lorena G.

Havia uma cadeira abandonada embaixo de uma árvore

E eu não sabia o que é que ela fazia ali.

Acreditei que fosse para um rei, 

Mendigo,

Ou simplesmente para mim. 

Eu por ela passei, e nela ninguém sentou

Mas "uma árvore", "a árvore" se tornou e lá continuou...

Sem ninguém para a possuir, apenas excitando a imaginação de uma poetisa das ruas. 

Lorena G. 

Nem todo poema é belo e nobre...

Existem aqueles que são feios e marginais.

 

Porém, todo poema pode se válido e valoroso,

Desde que saia das entranhas de quem o escreve. 

Lorena Gal

Liberdade, Liberdade... por onde andas tu?

Quanto mais a desejo, menos a possuo.

Quanto mais a procuro, mais longe de ti me encontro.

Quanto mais livre tento me tornar, mais são os grilhões que me seguram.

Liberdade, Liberdade...por onde andas tu?

Na paixão, na morte ou em lugar nenhum?!

Lorena Gal

Sou filha da Aurora

Casada com Trovão

Tenho a cabeça na lua

E o corpo no seu colchão

L. Gal

em anos loucos de vida e morte
a certeza enterra a triste saudade
de ser humano
-esmagado pelo ego forte -

entre lápides salgadas de morte
sussurro o nome dos deuses 
e espero pela sorte da ressurreição

nem todos foram salvos dessa imensa orgia
entre santos e hereges 
calados pela noite fria

de imenso, basta Deus
e tudo o que há dentro de ti

e em mim 


digo-te que se fores a algo poupar, 
poupe primeiramente o breve silêncio
das pobres almas esculpidas em mármore  fosco durante as batalhas da dura vida 

 

Lorena Gal
 

Santa Madre que Cria 

(para minha mãe) 

No simulacro da vida

A menor semente torna-se uma árvore imensa

Capaz de servir de abrigo para todas as aves do céu

 

O divino sopro visita o divino ventre

E o milagre acontece

Transformando um só ser,

Em dois.

Em três.

Em infinitas gerações que perpetuam

E transferem a ideia da eternidade na carne que morre.

 

A vida jorra dos olhos,

De cada poro do corpo

Em cada batida do coração.

O trote de cavalos selvagens

Rumo ao sádico enigma:

Decifra-me ou te devoro:

Quem caminha de quatro na aurora

Com duas pernas na hora terceira

E com três no momento da ressurreição?

 

Nada mais importa pois

A água já emanou das Santas Costelas

Espirrou na alma criada no ventre.

Batizou.

Transformou.

A mística aconteceu.

A semelhança de Deus foi devolvida.

 Sacralizou a primeira morada de todos os homens

O berço da menor semente e do maior milagre.

As montanhas já podem se mover.

Que lancem-se nos mares!

O que era considerado impossível,

Na realidade tornou-se real.

De indivíduo comum

Agora, filho de Deus.

De mulher,

Para origem de cidadãos celestes.

Santa madre que cria.

Que expande o Reino Celeste.

Que planta a fé e faz ouvir a voz da vida sobre os epitáfios

Apagando os nomes dos mortos

Escrevendo-os no coração de Deus.

(Lorena Gal) 

Nos vastos pântanos internos

Entre lodo escorregadio e raízes confusas,

Trago meu próprio espírito

Em busca da luz pura:

Ofuscada pelas sombras mentirosas do passado e do futuro,

Que ditam quem sou e quem devo ser;

E obrigam-me a crer na ilusão do tempo.

No tic tac do relógio.

Distraindo assim, a virgem atenção

Não descoberta, da consciência

Que num ímpeto de vida

Lança a voz sobre os epitáfios

Invocando-a à si mesma

A incorporar o Todo em si.

-L.Gal-

Ímpeto da raça humana

Sangue vivo que escorre entre dentes cravados

Nos contos atormentados dos vivos

 

Nas lápides brilham os nomes da saudade

Erguidas, firmes,

Mais vivas do que nunca.

Mais mortas do que sempre...

 

Sopro dos deuses

Risada irônica de quem conhece o último ponto.

Sejam carícias ou sejam máculas

Repetidas vezes lançadas e perdidas no tempo do relógio

Mecânico e falacioso. 

Aletheia!

Vim lhe trazer a verdade sobre a vida:

A vida é morrer aos poucos...

É buscar a fuga da morte indo ao seu encontro.

O paradoxal divino,

A divina comédia.

É sorrir o frio riso de nossos antepassados

Que cavalgaram pelas breves veredas sangrentas dos homens

-L.G.- 

As leves asas chegam suavemente e confundem até os mais bravos guerreiros.

Pousam delicadamente na face

E sem que se perceba, incorporam-se na alma,

como o demônio,

Nos desprotegidos por deus.

 

Escondem-se por trás da segurança,

Na sabedoria dos mais velhos,

Na falsa estabilidade comum.

Impedindo o cavalo selvagem do vivaz galope rumo à montanha dos deuses,

Que poucos ousam subir.

Apenas aqueles que morrem para si mesmos,

Os corajosos que enfrentam o piore dos inimigos

Encaram-se no espelho da verdade

E enterram cotidianamente as próprias fobias.

-Lorena Gal-

De cá, nada se leva

Pra lá, tudo se vai

Entre a inspiração e a expiração a vida se esvai

Ficam apenas singelas lágrimas

Por amor cultivado nos pesares

Pela sombra esvaída que não mais se alçará.

 

O beijo dado

Menos forte do que mãos entrelaçadas

O abraço fraterno

Entre os próximos feito irmãos

 

A moeda pesa,

Sim pesa,

Na balança do coração

Mas a pena deve ser mais leve

E o céu, abrir-se-á então.

A boquinha de coração

Vermelha feito escarlate

No cume dos seios descansa 

Como o beija o faz à flor.

Rude ficam as doces rosáceas 

Sensíveis ao nobre explorador 

Que de tanto nelas tocar 

Divulgam o suco a preparar. 

Na fenda o deslize é certo 

Já molhadinha está 

O toque faz o acerto 

Ah... sim..

Eu vou gozar.!

Aprendo mais com as flores

Do que com os doutos

Os pássaros ensinam mais do que os engravatados que matracam mentiras

 

A Verdade se esconde nas coisas simples.

Na relva,

Na beleza da lua,

No poder do sol,

Nas gotas de chuva, 

No caminho das formiguinhas,

No beijo que acende,

No sorriso das criancinhas.

 

Não me venha com fórmulas abstratas

Que não traduzem em si a realidade suprema

O canto dos deuses se estende na vida humana

É só isso.

O universo que é o verso único sobre muitas coisas.

O um que é dois

E quando três,

Retorna ao

um.

A Carola chorou a vara que a maltratou.

O varão de nobre porte

Coração de macho que sabe realizar a corte

 

Pobrezinha da menina

Que sem pensar deitou e deleitou

Do leite que abastece a bolsa de toda mulher.

 

Sem pensar no amanhã,

Sina de quem fode,

Prenha acabou.

Chorou e chorou,

Pela criança que nos ombros, pela vida carregou.

Lembrar do passado é tarefa de melancólicos

Desses que gostam de outono

E de folhinhas caídas no chão

 

Lembrar do passado é conversar com o “eu antigo”

Que deu espaço, pelas escolhas, a inúmeras novas vozes internas

Que nascem, vivem e se transformam

 

O café da tarde não é simples café da tarde,

Mas “tarde -de café- ao sol”

E cada golada no suco é um momento eternizado pelas sucessões de imagens cristalizadas na memória

Um gesto dos lábios

Uma mexida nas madeixas do cabelo

Uma gargalhada barata e longa.

 

Lembrar do passado é se firmar no presente

É reconhecer a vida em sua amplitude

E dar valor ao que se vive agora

Pois, afinal, o que você deseja lembrar amanhã?

O primeiro quarto que me lembro

É o azul, cheio de ovelhinhas...

 

Em minha pequenez,

Conhecia a todas pessoalmente.

Conversava com elas,

E elas me contavam dos dias atarefados repousando nas nuvens.

 

Pelo que me lembro, grande era o trabalho das pobrezinhas.

Não é fácil passar o dia se equilibrando numa nuvem feita sob perfeita medida.

Se engordar, cai dela

E cair dela é morrer do rodapé.

Mas rodapé é lugar de notas apenas,

Não de ovelhinhas.

 

Quando me mudei, tive de me despedir.

Uma a uma.

Num ritual infantil, passei o dedinho e conversava por cerca de cinco segundos.

-cinco segundos é muita coisa para uma menina espoleta-

Declarei que sentiria saudades e relembrei do valor de cada uma.

Elas pareceram não se importar pois sabiam que por mais que novas cores as cobrissem,

Na primeira camada,

Quem habitavam seriam sempre elas...

E não é que é verdade?

 

O primeiro quarto que me lembro

É o azul, cheio de ovelhinhas.

Cante para mim 

O doce augúrio dos profetas profanos 

Não me intimide com o véu mundano 

Que cobre cada esquina da alma 

Descubra o desconhecido 

E encare-o de frente. 

Beba o suor da guerra 

E banhe-se no sangue dos guerreiros

Enxergue a si mesmo no reflexo dos olhos do pavor 

E trague as incertezas dos anos rebeldes.

A história fede a ossos velhos. 

O potro selvagem é teimoso

Não permite o chicote nem a navalha. 

A vida não permite rédeas 

"Domar" é vocabulário não revelado 

Incompreensível para o ímpeto primevo. 

A fusão do divino com a forma de barro. 

Já Fomos Uma  

Para K.D

De tudo o que sobrou de nós

Reduz-se as fumaças desvanecidas

Em direção à luz escassa de postes antigos

 

No fluxo e influxo,

No rio da vida que jorra sob o sangue dos mortos...

Pois nós, somos várias.

Múltiplas e abrangentes.

Carregamos nas costas a sina de nossos antepassados

-Benditos e malditos como as palavras de Deus-

Se realizam por nossas vértebras

E sustentam a coroa do mistério.

 

Em menos de cem anos,

Éramos uma...

Desde o início sem início também.

Em potência que vibrava no fio do destino,

Que metamorfoseou-se em matéria

E nos deu o mesmo sorriso.

A mesma pinta de canto de boca.

O mesmo jeito desajeitado.

 

Mas naquilo que éramos, sem sermos iguais

Desviou nossa seta em centímetros que no percurso tornaram-se quilômetros.

Somos duas...

E agora, outras várias são uma em nós,

Que dentro de um suspiro de mil anos

Povoarão a terra.

Me perdoe senhor por ser quem sou

Miserável pecadora indubitável errante

O erro me espera no umbral da porta do amanhecer ao entardecer.

Todos os dias, provo de minha própria sina amarga,

A goles secos e tragos intoxicantes.

A fumaça que embaça a vista

Se revolve em gotas de sangue quente

A vida pulula dos poros de dor

E na dor, revela-se vida, verdadeiramente.

Sabe-se que estás vivo quando sofres

E sofrer é saber quem sou.

A cruz é cruz porque compreende

Ampla e perfeitamente o interior do mais nobre sonhador.

Me perdoe senhor por ser que sou.

As caveiras fumam a história de seus descendentes 

O tilintar dos ossos ressoam a morte iminente 

Dos epitáfios o leitor se apega à mensagem 

Como se meia dúzia de palavras compreendessem a alma ainda viva

A morte é o berro dos mudos, 

O ouvido dos surdos,

A vingança dos indigentes. 

De rei ou ladrão 

Seja nobre ou plebeu 

A carne é a sobremesa dos vermes, 

As tripas suas moradas. 

Sob o mesmo chão que pisamos 

A história da humanidade jaz enterrada; 

e desenterrada. 

Mais viva, impossível. 

Mas morte, também. 

ontem deus falou cmg.jpg

Ontem Deus falou comigo

Veio a mim na forma dum mendigo travesti

Pediu-me um cigarro e dinheiro pra cachaça

E disse que conhecia minhas tristezas

 

Ontem Deus falou comigo

Eu estava mal

Levando o peso da ausência nas esquinas nebulosas da alma.

Em tom sensível, disse que me entendia

E que era meu amigo

 

Ontem Deus falou comigo

Não esperava encontra-lo ali

Justo quando me escondia,

Onde fedia a mijo e tinham ratos

Onde a luz era escassa

 

Ontem Deus falou comigo

Lendo em minha face tamanha tristeza

Confessou que nada podia me dar

A não ser conversa e um ombro amigo para chorar

 

Mas na verdade, isso é tudo

tiao.jpg

Tião Sebastião 

Para meu avô

São escassas as lembranças que sustentam a tua face

Lembro pouco do teu jeito dócil e dos ombros largos

Típico de guerreiros honrosos

 

Dos teus olhos vejo no caráter do meu pai

Filho bem criado

Crescido na guerra e cristão de coração,

Como poucos o são.

 

Apesar da memória fragmentada de ti

Conservo incólume a saudade

E herança sagrada no sangue,

No nome,

Na sina.

 

Vives em mim

E conduz -sem que eu perceba- a minh’alma para o reflexo místico na pedra de ouro

As tuas santas leituras de camponês simplório

Homem de classe na beirada da cama,

Ainda regam meus pés no caminho da Verdade

 

És porteiro

E espero ter a honra de ser recebida na pós morte

Por meu antepassado augusto

Tião,

O  Sebastião.

criaste.jpg

Criaste as estrelas regentes

E divinamente escolheste nascer sob suas influências

 

A luz provinda da Divina Palavra

Iluminou a sagrada boca,

Cuja mensagem clareou a consciência da humanidade

 

 Olhaste a criação findada

E no fim, colocaste o começo

 

Talhaste especificamente cada seiva

Sabendo qual das sementes

Viria a sustentar Sua carne celeste

 

Em todo os lugares se introduziu

Mas escolheu sentir-se abandonado na angustia

 

Modelou cada espaço.

Com os dedos cavou as grutas

Ainda que seu corpo por três dias, viesse guardado repousar

 

Maravilhosamente firmaste todo o universo

E humildemente foste unicamente firmado por pregos

 

Regalaste com liberdade a humanidade

Permitindo a morte

Mas escolheste padecer na cruz

 

Pudeste de cima contemplar o sol e a lua

No entanto, preferiste da relva apreciá-los 

 

 

Possuindo-se completamente

Doou-se exclusivamente

Calando a morte

Erguendo a Porta da Vida. 

liguei para ela.jpg

Liguei pra ela

Conversamos sobre as roupas que iam para a lavanderia.

 

Saudade é isso:

Conversar sobre bobeira,

Sobre a casa que foi limpa e deu uma canseira danada,

Sobre a cadela que estava tentando comer com a outra (“vê se pode?!”)

Sobre o bolo que deu muito certo ou muito errado...

 

No fim das contas

Essas conversinhas são o que refletem a luz do sentido da vida!

Quando, pessoalmente,

Você pode observar a claridade que os olhinhos refletem...

No sorriso de canto de boca entre as piadinhas...

Na mexa de cabelo que o vento jogou pro lado oposto do normal...

Na covinha...

 

Entre silêncios que o cérebro exige enquanto pensa no próximo assunto,

Você paquera.

Fica namorando sozinha.

E se dá conta que ama.

E como ama...

 

Ela fala muito mais do que eu,

Muito mais!

Eu fico só escutando, do outro lado da linha

Acenando como cachorrinhos de plástico de caminhão.

Ela está certa, sempre certa.

Mas é meu dever discordar de vez em quando.

Num ímpeto descuidado de firmar a própria personalidade longe do ninho.

Atitude humana...

Demasiada humana.

ser pega de surpresa.jpg

Ser pega de surpresa 

Começou a chover

Vi-me obrigada a trocar o livro pelo guarda-chuva

Parte do caminho estava forrado com pétalas amarelas,

Que contrastaram aos meus olhos, com o cinza asfalto e o negror das nuvens

 

Assim surgiu curta poesia

Filha de um espírito incomodado

E de uma tarde sem graça e preguiçosa de domingo

 

A mãe, acompanhada da filha, apontou para o céu, espantada.

Achei graça,

O mesmo tipo de espanto percorre todo o meu corpo e alma quando encaro partes de mim

 

Ninguém quer ser pego de surpresa durante uma tempestade daquelas.

Mas somos.

Infelizmente ou felizmente...

Deixo a escolha para meus pares

 

Eu já me acostumei com esses climas loucos de chuvas espontâneas e sóis imprevisíveis

O que ocorre nas entranhas da raça humana é tempestade pior.

E como carrego em mim o ímpeto primevo de Eva e Adão

Reconheço as explosões criadoras que trazem a destruição

 

Enfim, não me decido se gosto ou não,

De ser pega de surpresa em tempestades...

E você?

Ser pega?

Surpresa?

Ou tempestades?

contemplar a lua.jpg

Quem sabe, ao contemplar a lua

No umbral da porta da casa de Deus

Com uma boa dose de cachaça com limão

Não serei agraciada com uma mensagem sagrada?

 

Nunca antes, me passara pela cabeça que

Às vezes, a verdade se encontra em coisas aparentemente profanas.

 

Fiquei ali, sentadinha

Assustei umas três moças beatas que provavelmente

Rezavam.

 

Quiçá, um anjo enviado por Deus,

Uma teofania poderia ter despertado ante meus olhos carnais

 

Com uma carta de escriba celeste

Com códigos divinos

Fariam cair as escamas da mentira...

 

Nada de miraculoso aconteceu

Não conversei com nenhum anjo

Nem mesmo uma cartinha de amor foi-me dada agora, na época de São João

Mas, estive lá, incólume, a contemplar a lua.

10 anos.jpg

10 anos

 

Parabéns para mim!

Parabéns para nós

Que celebramos os anos da desilusão

Quando as taças cristalinas da inocência ainda eram inteiriças

 

O destino presenteou-nos com um corte

Na face

No coração

Em cada fragmento da alma

Apresentou-nos a realidade não com abraços e beijinhos

Mas arrancou-nos as cataratas dos olhos com facas enferrujadas

Largadas ao léu,

Empoeiradas com a história da humanidade

 

Carrego em mim a sina de meus antepassados

O amor e o ódio

A guerra e a paz

Carrego nas entranhas,

No sangue rubro que percorre as veias frágeis

Carrego a santidade de Abel e a inveja de Caim

A pedra da morte está embaixo de meus pés

E o cheiro da gordura queimada já subiu aos céus

 

Parabéns para mim!

Parabéns para nós,

Que sopramos a vela sádica da boa fortuna

E ousamos com teimosia, fazer um pedido.

 

Na escuridão

Que a nós sobreveio

Achamos luz apenas no reflexo de nossos olhos

Aceitamos o que nos esperava

Agarramos a rédea de nossas vidas

Extraímos obras de arte de nossas cicatrizes

Troféus os quais apenas nós conhecemos no íntimo

 

Parabéns para mim,

E para nós!

Que celebramos os anos de nossa desilusão.

se sinto carinh.jpg

Para D.dC.

Se sinto carinho

Quero elevar-te à altura dos anjos

Quero ver-te na glória de Deus

Reluzindo a luz da Verdade

E aquecendo os corações dos homens miseráveis

 

Desejo que tua inspiração seja a sabedoria,

Que tua expiração seja a paz consoladora.

Pois mundo se beneficia com o amor...

Se beneficia com os Santos que Deus elege

Com os possuídos por alma nobre que alçam a coragem divina perante as sombras das mentiras blasfemadoras

 

Espero –na esperança da fé- que teus caminhos sejam reluzentes

Que tuas vértebras sustentem um caráter resoluto

Que dos teus olhos minem vida onde há vale de ossos secos

Sejam tuas palavras como fio de espada

E cortem das pobres almas sedentas a ausência do Sagrado.

cante sobre minha sepultura.jpg

Escrevi meu nome numa tábua de morte

Chamei-te para ler em alta voz

Silabas que outrora fizeram-te sorte

Cravadas em pedra fria, hoje tiram-te a paz

Cante aos pássaros sob minha sepultura

Recitando versos ditos em momentos de ternura

Tenho que parar de escrever sobre morte.

Já risquei as palavras macabras de minha lista de poetisa

Troquei “epitáfio” por “flores”

“Morte” por “vida”

“Ossos” por (...) sei lá,

“sorvete”!

Palavras assim mesmo

Fofinhas

Pois tenho que parar de escrever sobre morte.

Busco-te nas tarefas honrosas

E mesmo nas ações monstruosas

Quero encontrar-Te

 

Sedenta vaga minh’alma

Correndo no mundo, sem calma

Chora e tapa com palmas

A face que clama a prece

 

Cheiros, toques, sabores

Sons provocam-me dores

Cegos meus olhos às cores

Anseiam por luz Verdadeira

 

Virtudes, pecados entrego

Para quem desenhou o meu ego

Com  livre-escolha, (eu) sossego.

Na correria do dia,

Minto as horas entre as buzinas

 

Finjo saber a escolha de ovos no mercado

Com confiança aperto a fruta mais que o recomendado

 

O sinal verde brilha vermelho aos olhos apressados

Os passos fortes esquecem do corpo cansado

 

Vou me viciando em mentiras porcas

Pecando em parcelas curtas

 

Mas que porra de vida é essa?

Corra alma entre vias curtas!

Dos dias temperados de terror

Onde apenas loucos não surtam,

Pelas manchetes de pavor

 

Mentiras perambulantes

Vagam livres nas calçadas,

Beijam cornos amantes

De personalidades castradas

 

O frio riso da vida

Em rostos tristes esculpe mapa

Finge arte em ferida

Por entre os dedos o tempo escapa

Para D.C.R.

Se o fio do destino é incerto 
Como o que as ondas trazem à areia fria
Resta à peregrina sonhar acertos
Que a guiem pela vida esguia

Encantos nem sempre frequentes 
Se erguem na aurora dos dias
E mesmo se o sol é poente, 
O canto ao amor se confia

Pobres pássaros ignorados, no entanto profetas,
Anunciam provérbios sagrados:
-Simples leis se escondem na doutrina secreta,
Do amor que gera o ser, no ser amado.

Pedidos singelos (a Deus), faço por ti, 
Que o sol esteja na clave e sempre te aqueça. 
De nossa amizade lindas flores colhi:
Lembranças tamanhas, impossível que se esqueça!

34040160_350_350.jpg

(Para minha avó)

Se o passado ao presente se consagra
O agora, como um sol irrompe as horas
O relógio (que se exploda!) só deflagra
A mentira de minutos decorrentes
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Entre o hoje e o eterno, pouco há
Nada além do que o corvo já cantou
"Nunca mais" a gargalhada nem um chá
Para a escrava que ficou só e carente
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Esta roda vaga e triste é o que resta
Para o resto que sobrou dos que já foram
Pobres presos, mal se encaixam numa fresta
Nada enxergam da verdade, são descrentes
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Se me entregas o bastão da raça e a sina
Me libertas desse caos de opções
Tua voz ainda soa e ensina:
- Nessa vida, acredite e siga em frente. 

 GalLorena©   2015

  • w-facebook
  • Twitter Clean
  • w-youtube
bottom of page