LorenaGal

Poesias

Luz de Dor
A dor de minha pobre alma
Não passa de uma flor a desabrochar ao luar
A lua com sua formosura,
Ilumina minhas pétalas de angústia
O que me sustenta é a escuridão da madrugada,
Com a escassa luz das estrelas
Posso contemplar a solidão
Pois sei que os únicos com similaridade a minh'alma vivem distantes
Em outra dimensão
O que me resta é viver as custas de minha nebulosa impotência.
(Lorena Gal)


Corvos Negros
Eis que os corvos estão a voar sobre as almas fétidas
Alastradas por toda a terra,
Vagando em corpos ainda vivos
Olhos vazios
Sem brilho,
Não transmitem frio nem calor
(Eis que os mornos, vomitarei de minha boca)
Os corvos, negros.
Enviados do hades
Para devorar as pobres putrefatas
O que fazer? !- Perguntou eu a essência das coisas-
Eis que os corvos, já estão a voar sobre as almas fétidas.
(Lorena Gal)
.


Entre Bosques e Segredos
Estive passeando pelos bosques vizinhos
E no caminho, as árvores me contaram um segredo
Disseram-me ter um pouco de minh'alma ,
E referiram-se a mim como ''eu''
Agora vejo-me diante dos berros dos vivos
E dos sussurros dos mortos
Sempre foi tão claro não é mesmo?
Nós que vivemos a tapar os ouvidos
Com nossos egos imbecis e inquietos
Cala-te e ouça, o que as árvores tem a dizer.
(Lorena Gal)
"To elevate the soul, poetry is necessary"
Edgar Allan Poe
"A poesia é mais fina e mais filosófica do que a história; porque a poesia expressa o universo e a história, somente o detalhe"
Aristóteles
"Fazer poema é como expor o coração a visitação pública."
Daniel Fiúza
"Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas"
Federico Garcia Lorca
"Fazer poesia é confessar-se"
Friedrich Gottlieb Klopstock
"Um poema é um mistério cuja a chave deve ser procurada pelo leitor"
Stéphane Mallarmé
"Um poeta é um mundo encerrado num homem"
Victor Hugo
"O poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir é dor que deveras sente"
Fernando Pessoa
"A poesia é aquilo que sei, sem saber o que é"
Artemisa Ferreira
"Ninguém doma o coração de um poeta"
Augusto dos Anjos
"A poesia é o pulsar, em nós, das emoções divinas"
Brígido Ibanhes
"Mas o que eu vou dizer da poesia? O que vou dizer destas nuvens do céu? Olhar(...)e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da poesia. Nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é poesia.
Federico Garcia Lorca

Oxalá
Oh céus !
Eu clamo por misericórdia
Minha alma segue afita nos caminhos tortuosos da vida
Com medo das sombras mentirosas perante as verdades intrínsecas
Por que tudo isso ?!
Todo esse mal ,
Essa bagunça dentro de mim ..
Tudo gira em círculos intermináveis
E estar nessa roda é como beber cicuta ou outro veneno de sábio .
A não existência já se fez impossível ,
O que me resta é compreender-me
E caminhar incansavelmente em busca de Deus .
(Lorena Gal)

Líquido do cálice de ouro
Gozo vermelho,
Que invade o meu corpo e me deixa em êxtase
Minha glória se torna quando estou hipnotizada
Transporta minha alma para o lugar de onde veio
Só tu tens esta capacidade,
Oh líquido do cálice de ouro !
Quando em sua presença estou,
Me vejo molhada,
Arquejando de prazer solitário
O estrume humano não poderá me deter ,
Se eu me tornar assim ...
Gozada eterna
Gozada pelo líquido vermelho
Meu noivo será e me terá a noite inteira
Se derramará em mim e eu me deixarei vulnerável
Que perigoso és!
Nos traz alegria e uma possível vergonha
Isso me excita...
Me faz querer mais...
Muito mais !
Ver minha face refletida em sua paz e calmaria
Minhas confusões se dissiparem
Por apenas poucos instantes...
Deixe-me beber-te por inteiro
Que todo o cálice dourado fique marcado por meus lábios sedentos
Me dê prazer
Deixe minha língua roxa
Minha boca corada
E meu corpo em um pós-gozo
Quero você até a última gota
Oh sim ....
Você, que habita no cálice de ouro !
(Lorena Gal)

Homens irracionais
Selva
Cheia de gente.
De gente que não é gente
Guiados pelo instinto da sociedade
Se tornam inúteis aos olhos de Deus
Vulneráveis a ideias insanas e chavões
Gostam de julgar e apontar seus dedos sujos uns nas caras dos outros
Sexo errado...
Sujo, inconsciente
Sexo que gera frutos dignos de pena
Mundo cruel , que se esqueceu do É de Deus
Visão deturpada e errada possuem ,
E insistem em passar de geração em geração
Sorrisos falsos ,
De medo
Covardes
Quero fugir de tudo,
Ser guiada por Deus
Por favor,
Necessito dos braços do Pai
Estou sufocada
Sangue brota dos poros do meu corpo
Corpo pequeno
Frágil
Casquinha que Yhwh escolheu para que minh'alma habitasse
Já não tenho medo desses animais selvagens
Tenho medo das ideias de poucos
Mas eles me entristecem...
Já que estou aqui , deixar-me-ei levar
Permitirei que me toquem ,
Que olhem para mim
Vamos !
Devorem meu corpo !
Mas por favor, eu imploro :
Esqueçam minhas tripas,
Vão direto à meu coração!
(Lorena Gal)

50% VS 50%
Cansei de ser assim :
Cheia de compreensões e falsa paciência
Eis que chegou o momento do desabafo
Já escolhi as armas e vestes sacerdotais
E gozei nas balas de ouro
Quero penetra-las no cérebro de todos
Ver o sangue escorrendo pela razão
Sangue quente e borbulhante
Lava vulcânica misturada com falsas ideologias
Me tocarei com a batuta
E quando esta estiver molhada ..
Enterrarei na boca dos liberais !
Costurarei os olhos dos bestas com as páginas de meus livros ''inúteis''
E os fios de minha calcinha vermelha
Me chamaram de metade anja e metade diaba não é mesmo?
Então agora aguentem minha parte diabólica !
Ela quer ver a ruína do mundo
Ou apenas o descanso de minha pobre alma
Já não saem lágrimas de meus olhos
Mas sim vidro vermelho que contém todo o vácuo em sua essência .
Não tenham medo , apenas implorem a Deus por meu eu angelical.
(Lorena Gal)

Setas do tempo
Ontem eu me perdi de mim ,
Hoje eu não me achei,
Amanhã perderei o que não achei...
Ontem eu perdi meu tempo,
Nunca vou encontrar, por isso não vou procurar
Amanhã, bem ... Amanhã vou esperar
Ontem eu perdi minha mente,
Hoje , aqui está mas diferente...
Amanhã ela mente
Ontem será o hoje,
O amanhã o depois,
E o perder ... O viver !
(Lorena Gal)
Sem potes e redes
Deixem!
Deixem que as borboletas voem e encontrem os mais belos jardins
Suas asas dançarão em harmonia com os ventos
E estes hão de uivar as maravilhosas melodias cantadas nos altos céus
Parem!
Parem de prender as borboletas!
De nada adianta deixar e prender
Abra as mãos sem vontade de fecha-las
Essas pobres não foram feitas para potes e redes
Possuem espírito livre
Vivem a eternidade intrínseca em cada segundo
Sejas tú, como elas
Amarela, azul ou negra
Encontre aquilo que te atrai
Dance (em harmonia) com aquele te leva
E voe.
Não permetindo potes e redes mortais!
(Lorena Gal)


The prostitution's river
I can't understand the meaning of all this
Everything is like a burlesque
The life is a whorehouse
Where we just can see a lot of hookers
This people love the prostitution
And every day
They walk on the streets so horny
We have power ?!
The seduction is the force that move the life
But, have a problem ...
After the gust, everything ends
So...
What should we do ?!
Escape is a awesome idea !
But ...
To where ?
Where can we go ?!
Sometimes , I run and run ...
And all , as in vain
I lost my energy.
Now, I'm like a bird drowing in the river
Dark and dirty river...
Full of false policies
And evil ...
I won't shout looking for help
Because in this society,
Anyone will listen me !
(Lorena Gal)

Roleta Russsa
A morte, à todos chega
De nada adianta alimentar o vão desejo da fuga...
Um por um, provará seu sabor
Disseram-me que ela é cinza,
Mas pouco me importa,
Já que esta é uma de minhas cores favoritas
Alguns a descobrem nas guerras
Outros dormindo
E ainda há aqueles que preferem os próprios punhos cortar
Ou saltar com um colar em direção ao habismo
Simples...
Simplesmente assim:
O último suspiro
Os olhos que nos ligam com o mundo natural se fecham
E os espirituais se abrem
O descanço para alguns,
O desespero para outros alguns
Quando a roleta russa parará em minha boca?!
Um mistério...
Profundo e instigante mistério.
(Lorena Gal)

No quarto de um hotel
Minhas lágrimas são como a chuva que cai na janela
Embaça a paisagem, tornando-a (mais) interessante
A gota quente escorre por minha face rubra e cansada
Enquanto minh'alma se contorce pela dor dilacerante
Ninguém pode escutar meus gemidos
E correr para me consolar...
Creio eu, que nem mesmo os seres celestiais desejam prestar-me socorro
Não possuo forças para lutar contra mim mesma
O medo dominou-me,
Sinto-me insegura e frágil...
Onde está minha Fortaleza?!
Meu corpo roda sob a cama branca, iluminada pela pouca luz do abajur marrom
Tudo está derretendo a meus olhos,
Inclusive as nuvens que choram lá fora
E alimentam os buracos na terra, formando poças cristalinas
Já minhas lágrimas. alimentam as fronhas, antes, limpas,
Pois já manchadas estão, por meu rímel borrado
Algumas lágrimas encontram o canto de meus lábios,
E eu sinto o salgado sabor de minha dor
Úmido e desnorteados se encontram os fios de meu cabelo,
Pois também foram, estes, alvo do choro dos céus
Não sei o que fazer,
Já que o meu nome, eu mesma risquei da lista.
(Lorena Gal)

Quimic'almente errados
Cadeia homogênea
Saturada por falta de conhecimento
Suas ramificações são podres,
E nos falta oxigênio
As ligações são fracas
E em pouco tempo se desfazem
Somos todos abertos,
Mas as condições impostas nos tornam fechados
Todos muito lineares...
Muito iguais
Que os ''quaternários'' que surgirem
Sejam apenas o compasso da música.
(Lorena Gal)

Toco-te
Digo-te o que digo.
Minhas palavras expressam em total gozo
Seus pobres significados
Sou poeta e preciso delas:
Aquelas pobres,
De significados que não significam nada
Chegou eu, ao "nada" (que te falei)
E tu me compreendes.
Finalmente....
Compreendes.
Aquilo que é incomprieensível
Percebes então
Que toco-te.
Não com palavras.
Beijo-te com minh'alma
Um beijo suave
Que marcará (para sempre),
O teu ser.
(Lorena Gal)

Uma rocha
Uma rocha.
Fria,
Escorregadia,
Fechada em si mesma.
Sou parte de uma rocha,
Largada no mais fundo oceano
Sendo alisada apenas pelas águas escuras
Que não conhecem os raios de sol
Minha única companhia é a solidão
E as negras sombras de seu silêncio
Que sussurram-me ''reticências'' seguidas por ''reticências''
Não penso por palavras
Pois estas, me limitariam a compreender
Então, fico lá...
Fico bem, (bem) pra lá.
No fundo,
Sozinha.
Vendo o que não pode ser visto;
Sentindo o que não se pode sentir;
Ouvindo o inaudível.
Sou eu, uma rocha.
E tudo aquilo que cabe ela a ser.
(o universo inteiro, resumido em suas inúmeras partículas)
Vivo, com plenitude, todos os meus limites.
(Lorena Gal)

Quatro horas da tarde
Havia uma menina
Que morava em um barraco
Às margens de uma linha férrea
Todos os dias, ás quatro da tarde
A menina passava batom e perfume para ver o trem passar
Subia naquilo que consederava ser o mais belo do barraco:
Um velho pé-de-laranja-lima
Os anos se seguiram
Ninguém entendia o por quê da agora, moça,
Trepar no pé, para nos mesmos horários, ver o trem passar
Julgando-a insana, a família resolveu mudar.
Compraram, então, um outro barraco.
Sem árvores e linhas férreas.
Não suportando sua saudade, a moça se matou...
Às quatro horas da tarde, de um dia qualquer.
Tempos depois, um senhor rico "comprou" o antigo barraco, e alguns outros terrenos, de agora "novos sem terra".
Logo mandou que cortassem o velho pé-de-laranja-lima para que contruíssem um edifício de luxo.
Os trabalhadores assim o fizeram, no mesmo horário que a menina acabou com suas dores.
Também contruiram o edifício.
Havia um menino,
Que morava em um edifício de luxo
Às margens de uma linha férrea
Um belo dia, às quatro horas da tarde,
Enquanto chupava uma laranja-lima, em seu momento de descanço das tarefas,
Um trem começou a passar.
O menino assustou-se com seus pensamentos profundos.
Descobrira um dos grandes mistérios da vida.
Pois assim como o trem, a vida é rápida.
Não sabemos exatamente onde começa,
Nem mesmo onde termina,
E o que ela carrega, é um grande segredo.
(Lorena Gal)

Devaneio
Nossa!
O sol está escorregando por detrás do morro
Se pondo...
Apagando...
Escurecendo as folhinhas ...
E deixando o morro escurecido...
A paisagem está meio filme de terror,
O céu cheio de cores,
(Será que alguém passou o dedo com aquarela pastel?)
Eu queria ser gigante e deitar nesse morro como que em um colchão
Respirar todo o oxigênio do mundo
Segurar o sol com as mãos
Cobriria meu corpo com estrelas
Lavaria meus cabelos no oceano ártico
Meu batom seria o gozo dos vulcões
Enfim,
Eu queria ser gigante...
(Lorena Gal e Aldo Magnolian)

"O Mundo é Um Moinho"
Palavras...
O vento as leva.
Amizades...
Romances...
Momentos...
O tempo os tomam .
Filosofias...
Músicas...
Vontades...
Se transformam.
Tudo passa,
Tudo muda,
Tudo acaba,
Oras, o que é eterno afinal?!
(Lorena Gal)

Ninguém vai ao Pai a não ser por Mim
A noite dá lugar a madrugada
Que por sua vez beija a face do amanhecer
As energias esgotadas
E o espírito estupefato
Combinação perfeita para "o fazer" de versos melancólicos
Passo a noite em claro,
Observo meus próximos ...
E percebo o quão cegos espiritualmente estão
Minh'alma chora
Quando minha visão foca-se nos que habitam no meu coração.
A cruz é o único caminho
Mas a eles uma nuvem cobre o monte do calvário
As luzes que os agradam, apenas piscam e se extinguem
Já a que me ilumina, envolve-me;
Inclusive enquanto passo pelo escuro deserto
Que levar-me-á à terra prometida.
(Lorena Gal)

Sem nome
As garras pontiagudas procuram um corpo débil para que possam ser cravadas;
As línguas dançam como se estivessem num ritual,
Realizado ao som de pífaros
Toque após toque, desnorteia
Todos "se amam" desesperadamente
E aos berros, sussurram por misericórdia
Espasmos tornam-se em tochas abastecidas por azeite virgem
E a luz é demasiadamente forte para os olhos coberto pelo véu vermelho
As cordas (do piano) começam a se arrebentar
O que gera música decaída
Cada corda que se arrebenta, é como o fio de cabelo cortado.
O fim do som é o fim da vida...
(Mas uma vez realizado, o som é infinito não é mesmo?)
Os pássaros cantam e anunciam o fim dos tempos:
As águas tornar-se-ão sangue vivo e os peixes serão trocados por larvas personhentas.
O céu chorará estrelas fumegantes
A lua e o sol iniciarão seus romances e esquecerão de suas tarefas para conosco.
Tudo desabará aos pés dos homens,
E estes, como sempre ignorantes (conhecedoresdobemedomal), continuarão a praticar suas orgias,
Que por sinal,- descobrirão-
Não levam à orgasmo algum.
(Lorena Gal)

Save our Souls
Sim, me mostre sua face
Quero vê-la com meus olhos humanos
Mas se possível transforme minhas vestes em luz
E meu corpo em verdade
Por favor, não demore!
Não sei até quando poderei eu esperar
Se necessário, abrevie meus dias...
A curiosidade corrói a minha alma
Como ferrugem ao ferro jogado ao léu
Meu espírito geme quando recorda algo que nunca vivi!
Tenha piedade de mim, oh Salvador das almas!
Por mais insignificante que eu seja, olhe para mim e perdoe meus pecados
Que fazem sentir-me inútil e constrangida perante sua grandeza e exuberância
Sei que se meus olhos se encontrarem com os seus, serei sustentada pela eternindade
Entenderei o sentido da vida
E poderei compreender-me a ponto de juntar minhas partes confusas
Se eu não puder recebê-lo
Envie ao menos um mal'ak Yhwh
Para que me conte as boas novas
E me traga alegria!
Mas eu lhe imploro, oh Onipotente:
S.O.S !
(Lorena Gal)

Sei lá
De tempos em tempos
Olho para trás e procuro
Mesmo vetada pelas foscas águas da cascata da vida
Uma criança risonha e arteira com os joelhos ralados
Sei lá, sabe?
Sei lá...
Acho que me perdi de mim, e desde então nunca mais me achei
Me vejo sentada na calçada de uma rua mórbida
Com o rosto apoiado nas costas das mãos
Esperando aquela menina correr para meus braços e revelar que tudo não passou de um 'esconde-esconde' qualquer
Mas não...
Quando enxergo o vulto da minha criança ,
Percebo-a muito bem onde está,
Virada de costas para mim
Ela não me quer...
Teve a mim enquanto se bastou
Na verdade, pouco se importa que eu a procure
Afinal, ela já fez sua parte, não é mesmo?!
Que cada um faça o parto de si mesmo
O que faço eu, então?
Espero-a dar-se conta da minha presença?
Aceno?
Revelo o que ela se tornou?!
(esse ser fragmentado e contraditório, que outrora fora integral?)
Hesito...
Para quê tirar a paz da criança?
Seria o mesmo que pedir-lhe um chute nas canelas
"-Deixe-a como está, minha cara! Há paz ali, não vês? Continue a dar seus passos tortos e cambaleantes! Aliás, que é que fazes tu?''
Ah... sim...sim...
Me desculpe, já ia me esquecendo...
O que faço eu, então?
Sei lá, sabe?
Sei lá...
(Lorena Gal)

Promete?
Contar-te-ei um segredo,
Que não revelo nem para mim mesma...
Sinto saudade.
Sim...
Pior que sinto
Mas "shh", hein?!
Silêncio.
Foram os cem graus do momento
Impulso...
O 'it' da C.Lispector, sabe?
(A fusão do humano com o não-humano)
Pecado.
Proibido.
Ilegal.
Imoral.
Foi digno de um dos cantos do inferno de Dante!
Guarde só pra si,
Promete?
Confio em você, então.
Na verdade, nem pense nele
Dizem que os maus espíritos escutam nossos pensamentos e depois nos tentam...
Mas enfim...
Bom mesmo é saber que embora com saudade,
Prefiro que a saudade continue sendo saudade
Deixo-a viva.
Gélida e só, lá no cantinho...
Não quero e não vou matá-la.
(Lorena Gal)

Amar...
É vencer a si mesmo
Negar suas vontades
Impulsos e razões
Amar é irritante.
Mas também é inevitável;
Inevitavelment irritante
Amar é aprender
Que dois mais dois não são quatro
São três, dois, um, dez e mil
Amar é poesia abstrata
Porém também é concreta
Endente-se apenas dentro de si mesmo
Amar é difícil.
Compreender,
Estar junto,
Perdoar...
Aliás, amar é perdoar
Ter misericórdia e lembrar-se no momento da ira
Que um dia você amou
Amar é simples e complicado.
Ama-se com tapas e beijos...
Ama-se longe e perto...
Ama-se em guerra e em paz...
Ama-se.
Amar,
Único verbo capaz de se estender a muitos,
Muito outros..,
(Lorena Gal)
Cabo de Guerra
Eu sou um castelo
Em cada aposento vive uma alma
As miseráveis são tão indelicadas e sem educação
Que nem mesmo esperam a vez para falar
Berram todas ao mesmo tempo
Umas tem cinco anos,
Outras cinquenta
E há também as que nem nasceram ainda
Ou estão em período de gestação
Umas são santas
Outras putas
Umas rezam por ti,
Outras fazem-te carinho
As terceiras ou quartas te chupam
Não é justo!
Sou quebrada em mil pedacinhos!
Um piano desafinado
Igreja com apenas uma torre e sem vitrais
Minha muralha é contruída e destruída
Dia após dia
Sou como Penélope que tece durante o dia
E desfaz de noite
-Entendo-a perfeitamente-
Sou o barulho o silêncio
O tapa e o beijo
O apertado e o frouxo
O rápido e o lento
O que entra e o que sai
O que fica e o que transcede
O gato e o rato...
AH!
Você também é assim?
Você também se contradiz? Sabe o quão difícil é não chegar a um acordo consigo mesmo?
Whitman quem gostava disso.
Eu não.
Ou sim?...
Sou ambidestra na alma
Escrevo com uma mão e me mastrubo com a outra
Sou de marte e de vênus
Sou a perfeita imperfeita
O seis e o sete
O um e o dois
O macho e a fêmea,
A que come e que é comida
A que lê e a que é lida,
Amo e detesto.
Sou pianíssimo e fortíssimo
Sou a implosão e a explosão
Sou Mozart e Beethoven
Eu sou eu,
Tu,
Ele,
Nós,
Vós,
Eles.
Lorena Gal

Entendo um pouco daquilo que não deveria ser entendido
Nada entendo daquilo que todos conhecem
Inocência massacrada
Suja de sangue seco
Com cheiro de rosas podres
Vida pertubada por anjos e demônios
Os males que nos fazem vem e vão,
Assim como as carícias,
Que sempre são inconstantes
E assustam a mimm e aqueles que tem medo de se entregar ao amor
Meu coração sangra constantemente
Alguma substância alquímica que nunca cessa
Sinto-me em cima de uma linha fina
Estendida diante do cosmos
Apenas um passo e prende-se a respiração para manter o equilíbrio
Coloco minha alma nas coisas
Seja num poema sem inspiração
Ou num beijo cheio de tesão
Só não consigo colocá-la dentro dela mesma
Pois ela foge
Assim como a chama de uma fogueira
Que enquanto é,
Praticamente,
Já foi...
Sou a iludida desiludida
Que chora carvão
E banha-se com veneno.
Lorena Gal

Bicho Papão
Aprendi que perder nem sempre é pior
Que chega uma hora que o adeus é necessário
Que uma briga acaba, posteriormente, unindo
Que o pior no momento, pode ser o melhor no futuro
Que a vergonha pode nos salvar
Que uma lágrima pode regar uma flor...
Aprendi que as coisas passam
Inclusive a alegria
Que os livros acabam, mas permanecem em algum lugar de nós
Que o melhor beijo é o que fica com um gostinho de quero mais
Que as pessoas que mais nos machucam são as que mais amamos
Que todo deserto tem um oásis...
Aprendi que ser desprezada nem sempre é ruim,
Se você for esperto, torna o desprezo em gasolina para a vida
Que um simple abraço pode consolar
Que as pessoas são cascas grossas com carnes macias
Que de fato, Deus escreve o certo por linhas tortas
Que chega um momento que a música termina ...
Aprendi a dizer não quando preciso
A dizer sim quando possível
A sorrir para mim mesma na frente do espelho
A apreciar minha própria companhia...
Aprendi que antes de buscar no outro, devo buscar em mim mesma
Que antes de olhar a bagunça do mundo devo olhar a bagunça de meu próprio quarto
Que para amar o próximo eu preciso (antes) amar a mim mesma ...
Aprendi a admitir que tenho medos
E que meus medos são na verdade, o bicho papão da minha infância
Ou seja,
Aprendi que -sim-,
Dá pra superar.
Lorena Gal


Lua, não te cansas?
Pela perpetuação dos séculos você se encontra sempre reluzindo
Quantas milhares de pessoas te olharam com lágrimas nos olhos?
E contaram-te segredos seguidos de segredos?
Quantos foram os que só a ti tiveram para desabafar?
E abafaram os gemidos sob seu luar?
Lua, a tua luz é um bálsamo gélido e consolador
Faz desabrochar todas as nossas angústias e confusões
Dá-nos respostas com esplendor
Tu és silenciosa e amiga
Misteriosa e reluzente
Digníssima de possuir os segredos de todos
Para cada um és a velha conselheira
Todos de conhecem
Todos te viram
Todos te deslumbram
És de todos
E ao mesmo tempo
És única como só tu sabes ser
Lorena Gal
Rabiscos
Eu gosto mesmo é de um problema
O que seria da vida sem um dilema?
Sem um disse que me disse
Sem um proibido
Sem um "não conta pra ninguém"
Eu gosto de problemas fresquinhos
Recém saídos do forno
Daqueles que nos fazem perder o sono
Chorar deitados no chão do banheiro
Olhar pro futuro e ver tudo nublado
Enquanto eu admito o meu gosto duvidoso
Meu Saturno solta um belo de um riso e me manda beijos
(se é que Saturno sabe sorrir e mandar beijos)
E eu fico assim,
Meio pra lá meio pra cá
Como as pessoas com problemas ficam
Olhar meio vago
Tudo meio sem cor
Estado melancólico
Suspiro profundo a cada cinco minutos...
E quer saber?
Todo mundo gosta
De uma briga de gato e rato
Um pique e pega
Polícia e ladrão
Afinal, qual o primeiro desenho que fazemos na vida e todos elogiam?
Um amontoado de rabiscos sem começo nem fim.
Lorena Gal


Atrai-me Senhor...
Atrai-me, meu Salvador...
Gloriosa Majestade,
Beleza Permanente,
Atrai-me.
Meu coração viverá inquieto
Se em ti não descançar,
Atrai-me.
Fizeste-me para Ti,
Toma-me.
Diga apenas uma palavra e tudo se fará novo
Tu és o Senhor do mares,
Da terra, dos céus...
Grande Dominador Eterno,
Atrai-me.
Acalme minh'alma aflita
Dê-me água da vida
Tenho sede da Tua justiça
Ajude-me a andar sobre as águas
Desejo à seu encontro caminhar
Atrai-me.
Permita-me aos menos tocar nas tiras de Suas sandálias
Necessito de apenas um toque...
Um toque na fronte
Aceita-me como sua
Abraça-me com Sua ternura
Atrai-me
Guia a tua pobre serva pelas veredas da justiça,
Pelo Amor de Seu Nome.
Atrai-me.
Lorena Gal

Prece de Belarmina
Levo o sertão no peito
As rachaduras da terra, no meu coração
O velho gado na alma
E a pouca chuva que me escorre pela mão
Levo a rapadura no bolso
A tristeza mantenho-a ali
Minha vida é dura e amarga
Não tenho tempo para sorrir
Entrego-te meu filho,
Cuide bem dele, por favor!
Que ele tenha uma vida tranquila
E que os anjos clamem à seu favor
Diga-lhe que "mainha" o ama
Amei-o no ventre
Para sempre o amarei
Que a aroeira cante cantigas
Para ninar meu pequeno rei
Chora minha pobre alma
Água pouca que a minha terra quase não vê
Diga-o, por favor!... Que o amo!
De fato o amei e o amarei
Há no meu seio um espaço
Que preenchido nunca será
Guardado para o doce sorriso
-De meu filho amado-
Que não poderei desfrutar
Pai nosso, que vive no céu!
Fortalece esta mãe solitária que vaga perdida pelo triste sertão
Clamando pelo filho querido- menino esperto
O qual não mais a verá
Por último Senhor, Deus meu
Rogo-te que me ajude a para trás não olhar
Para não morrer com a dor
Pois meus filhos tive que dar
Lorena Gal

Mata-me ou deixa-me viva?
Amo-te e sinto que perco-te a cada novo instante
Fabulosamente majestosa, a saudade vindoura já sussura sobre ti
Do amanhã, joga suas sombras no meu coração e mente
E eu agora, no nosso presente
-Presente humano, em frente ao passado e de costas para o futuro-
Choro com minhas memórias
Escapa-me por entre os dedos.
Es tu o sopro e eu o catavento
Sei que constróis uma cortina de ferro a cada vez que me olha nos olhos
E eu, na ansia de tocar-te a alma
Pixo-a (desesperadamente) com rosas e espinhos
Estás apegado ao medo
De querer-me ou deixar-me
Estou para ti entre a vida e a morte
Como um pavil de vela semi-aceso
Ou semi-apagado,
Depende do ponto de vista...
E o ponto de vista, meu bem ,
É seu.
Lorena Gal
O que é que eu vim fazer aqui?!
Escrever meu nome num prato,
E lançá-lo contra a parede?
Pintar um belo quadro,
E cobri-lo com lençóis?
Escrever músicas belas,
E jogar as partituras numa fogueira?
O que é que eu vim fazer aqui?!
Contemplar as flores,
E colhe-las dos campos?
Maravilhar-se com o canto dos passarinhos,
E prendê-los em gaiolas?
Nadar com peixinhos coloridos,
E pescá-los por diversão?
O que é que eu vim fazer aqui?!
Sentar-me no banquete mundano
E rejeitar toda a comida?
Amar a Cristo,
E crucificá-lo dia após dia?
Provar excruciantes contradições ,
E não poder solucioná-las tão logo quanto me aparecem?
Oras, me diga!
O que é que eu vim fazer aqui?!
Pouco me importa se o sol tornar-se-á gelo
E o mar, lago de fogo,
Que a águia rasteje e as cobras criem asas!
Preciso apenas de uma singela resposta
Pois inquieta-me o espírito diante desta questão
E agita-se a água do meu coração
E então?...
O que é que eu vim fazer aqui?
Lorena Gal
Minha vida está como um velho banco de piano
No meio de uma rua escura e vazia
Esperando apenas que uma boa alma o retire dali
E o coloque na frente do piano
Para que alguém possa assim,
Tocas belas melodias
E sentir-se cheio de vida
E feliz, talvez...
Mas não
Ele continua ali
No meio
Da rua
Escura
E
Vazia
Lorena G.


Já foi visto?
Caminho em direção à uma porta
Estendo a mão para girar a maçaneta,
Me detenho.
Não entendo -de fato- o porque de ter parado a ação...
Creio que a porta ao lado pareceu-me igualmente atraente.
Olho a minha volta vagarosamente
Franzo o cenho e mordo os lábios...
Pensei que tinha alguém ao meu lado (...)
Porém, cá estou só.
-Suspiro-
Caminho em direção à uma porta
Estendo a mão para girar a maçaneta,
Me detenho...
Viro a face,
Franzo o cenho e penso:
"Hum... Déjà vu?'
Lorena Gal

Sou a água parada.
Mancinha,
Pouquinha,
Rasinha,
Que logo evapora.
Sou-por completa- o oceano,
Bravinho,
Cheinho,
Fundinho,
Mas que te devora.
Lorena G.

Sabes, é possível enxergar cores de olhos fechados ...
Digo-lhe a verdade, pois sou profetiza.
Para ver, basta abertura...
-Mas não dos olhos.
É um tipo de abertura interna-
E um pouco de luz, de preferência a natural.
Tão logo quanto um suspiro
As cores começam a se movimentar por entre as pálpebras.
Primeiramente, mesclam-se entre azul e lilás e depois entre vermelho e amarelo.
É incrível ver as cores de olhos fechados!
Elas se movimentam e aparecem em círculos que aumentam e diminuiem...
Elas também vibram!
Hoje mesmo o azul vibrou pra mim,
E o vermelho carmesim.
Quando os olhos naturais se abrem novamente, as cores da realidade nos parecem saltar, e por uma fração de segundo parece que você as entende.
É muito bonito!
...é possível enxergar cores de olhos fechados....
Lorena Gal

Se vais me beijar, beija-me loucamente
Se estás comigos, estejas completamente
Se me queres, queira-me inteiramente
Não aceito meias palavras, um pouco, um terço, a metade...
Ou seja lá o que for!
O que não possuo,
Desprezo.
Lorena Gal
Sou a deusa do amor deitada a luz das estrelas
De olhos semicerrados.
Só não tenho a coragem de te contar quantos foram os dramas
-e comédias-
Que escrevi para você encenar
Lorena G.
Havia uma cadeira abandonada embaixo de uma árvore
E eu não sabia o que é que ela fazia ali.
Acreditei que fosse para um rei,
Mendigo,
Ou simplesmente para mim.
Eu por ela passei, e nela ninguém sentou
Mas "uma árvore", "a árvore" se tornou e lá continuou...
Sem ninguém para a possuir, apenas excitando a imaginação de uma poetisa das ruas.
Lorena G.
Nem todo poema é belo e nobre...
Existem aqueles que são feios e marginais.
Porém, todo poema pode se válido e valoroso,
Desde que saia das entranhas de quem o escreve.
Lorena Gal
Liberdade, Liberdade... por onde andas tu?
Quanto mais a desejo, menos a possuo.
Quanto mais a procuro, mais longe de ti me encontro.
Quanto mais livre tento me tornar, mais são os grilhões que me seguram.
Liberdade, Liberdade...por onde andas tu?
Na paixão, na morte ou em lugar nenhum?!
Lorena Gal
Sou filha da Aurora
Casada com Trovão
Tenho a cabeça na lua
E o corpo no seu colchão
L. Gal
em anos loucos de vida e morte
a certeza enterra a triste saudade
de ser humano
-esmagado pelo ego forte -
entre lápides salgadas de morte
sussurro o nome dos deuses
e espero pela sorte da ressurreição
nem todos foram salvos dessa imensa orgia
entre santos e hereges
calados pela noite fria
de imenso, basta Deus
e tudo o que há dentro de ti
e em mim
digo-te que se fores a algo poupar,
poupe primeiramente o breve silêncio
das pobres almas esculpidas em mármore fosco durante as batalhas da dura vida
Lorena Gal

Santa Madre que Cria
(para minha mãe)
No simulacro da vida
A menor semente torna-se uma árvore imensa
Capaz de servir de abrigo para todas as aves do céu
O divino sopro visita o divino ventre
E o milagre acontece
Transformando um só ser,
Em dois.
Em três.
Em infinitas gerações que perpetuam
E transferem a ideia da eternidade na carne que morre.
A vida jorra dos olhos,
De cada poro do corpo
Em cada batida do coração.
O trote de cavalos selvagens
Rumo ao sádico enigma:
Decifra-me ou te devoro:
Quem caminha de quatro na aurora
Com duas pernas na hora terceira
E com três no momento da ressurreição?
Nada mais importa pois
A água já emanou das Santas Costelas
Espirrou na alma criada no ventre.
Batizou.
Transformou.
A mística aconteceu.
A semelhança de Deus foi devolvida.
Sacralizou a primeira morada de todos os homens
O berço da menor semente e do maior milagre.
As montanhas já podem se mover.
Que lancem-se nos mares!
O que era considerado impossível,
Na realidade tornou-se real.
De indivíduo comum
Agora, filho de Deus.
De mulher,
Para origem de cidadãos celestes.
Santa madre que cria.
Que expande o Reino Celeste.
Que planta a fé e faz ouvir a voz da vida sobre os epitáfios
Apagando os nomes dos mortos
Escrevendo-os no coração de Deus.
(Lorena Gal)

Nos vastos pântanos internos
Entre lodo escorregadio e raízes confusas,
Trago meu próprio espírito
Em busca da luz pura:
Ofuscada pelas sombras mentirosas do passado e do futuro,
Que ditam quem sou e quem devo ser;
E obrigam-me a crer na ilusão do tempo.
No tic tac do relógio.
Distraindo assim, a virgem atenção
Não descoberta, da consciência
Que num ímpeto de vida
Lança a voz sobre os epitáfios
Invocando-a à si mesma
A incorporar o Todo em si.
-L.Gal-

Ímpeto da raça humana
Sangue vivo que escorre entre dentes cravados
Nos contos atormentados dos vivos
Nas lápides brilham os nomes da saudade
Erguidas, firmes,
Mais vivas do que nunca.
Mais mortas do que sempre...
Sopro dos deuses
Risada irônica de quem conhece o último ponto.
Sejam carícias ou sejam máculas
Repetidas vezes lançadas e perdidas no tempo do relógio
Mecânico e falacioso.

Aletheia!
Vim lhe trazer a verdade sobre a vida:
A vida é morrer aos poucos...
É buscar a fuga da morte indo ao seu encontro.
O paradoxal divino,
A divina comédia.
É sorrir o frio riso de nossos antepassados
Que cavalgaram pelas breves veredas sangrentas dos homens
-L.G.-

As leves asas chegam suavemente e confundem até os mais bravos guerreiros.
Pousam delicadamente na face
E sem que se perceba, incorporam-se na alma,
como o demônio,
Nos desprotegidos por deus.
Escondem-se por trás da segurança,
Na sabedoria dos mais velhos,
Na falsa estabilidade comum.
Impedindo o cavalo selvagem do vivaz galope rumo à montanha dos deuses,
Que poucos ousam subir.
Apenas aqueles que morrem para si mesmos,
Os corajosos que enfrentam o piore dos inimigos
Encaram-se no espelho da verdade
E enterram cotidianamente as próprias fobias.
-Lorena Gal-

De cá, nada se leva
Pra lá, tudo se vai
Entre a inspiração e a expiração a vida se esvai
Ficam apenas singelas lágrimas
Por amor cultivado nos pesares
Pela sombra esvaída que não mais se alçará.
O beijo dado
Menos forte do que mãos entrelaçadas
O abraço fraterno
Entre os próximos feito irmãos
A moeda pesa,
Sim pesa,
Na balança do coração
Mas a pena deve ser mais leve
E o céu, abrir-se-á então.
A boquinha de coração
Vermelha feito escarlate
No cume dos seios descansa
Como o beija o faz à flor.
Rude ficam as doces rosáceas
Sensíveis ao nobre explorador
Que de tanto nelas tocar
Divulgam o suco a preparar.
Na fenda o deslize é certo
Já molhadinha está
O toque faz o acerto
Ah... sim..
Eu vou gozar.!

Aprendo mais com as flores
Do que com os doutos
Os pássaros ensinam mais do que os engravatados que matracam mentiras
A Verdade se esconde nas coisas simples.
Na relva,
Na beleza da lua,
No poder do sol,
Nas gotas de chuva,
No caminho das formiguinhas,
No beijo que acende,
No sorriso das criancinhas.
Não me venha com fórmulas abstratas
Que não traduzem em si a realidade suprema
O canto dos deuses se estende na vida humana
É só isso.
O universo que é o verso único sobre muitas coisas.
O um que é dois
E quando três,
Retorna ao
um.
A Carola chorou a vara que a maltratou.
O varão de nobre porte
Coração de macho que sabe realizar a corte
Pobrezinha da menina
Que sem pensar deitou e deleitou
Do leite que abastece a bolsa de toda mulher.
Sem pensar no amanhã,
Sina de quem fode,
Prenha acabou.
Chorou e chorou,
Pela criança que nos ombros, pela vida carregou.

Lembrar do passado é tarefa de melancólicos
Desses que gostam de outono
E de folhinhas caídas no chão
Lembrar do passado é conversar com o “eu antigo”
Que deu espaço, pelas escolhas, a inúmeras novas vozes internas
Que nascem, vivem e se transformam
O café da tarde não é simples café da tarde,
Mas “tarde -de café- ao sol”
E cada golada no suco é um momento eternizado pelas sucessões de imagens cristalizadas na memória
Um gesto dos lábios
Uma mexida nas madeixas do cabelo
Uma gargalhada barata e longa.
Lembrar do passado é se firmar no presente
É reconhecer a vida em sua amplitude
E dar valor ao que se vive agora
Pois, afinal, o que você deseja lembrar amanhã?

O primeiro quarto que me lembro
É o azul, cheio de ovelhinhas...
Em minha pequenez,
Conhecia a todas pessoalmente.
Conversava com elas,
E elas me contavam dos dias atarefados repousando nas nuvens.
Pelo que me lembro, grande era o trabalho das pobrezinhas.
Não é fácil passar o dia se equilibrando numa nuvem feita sob perfeita medida.
Se engordar, cai dela
E cair dela é morrer do rodapé.
Mas rodapé é lugar de notas apenas,
Não de ovelhinhas.
Quando me mudei, tive de me despedir.
Uma a uma.
Num ritual infantil, passei o dedinho e conversava por cerca de cinco segundos.
-cinco segundos é muita coisa para uma menina espoleta-
Declarei que sentiria saudades e relembrei do valor de cada uma.
Elas pareceram não se importar pois sabiam que por mais que novas cores as cobrissem,
Na primeira camada,
Quem habitavam seriam sempre elas...
E não é que é verdade?
O primeiro quarto que me lembro
É o azul, cheio de ovelhinhas.
Cante para mim
O doce augúrio dos profetas profanos
Não me intimide com o véu mundano
Que cobre cada esquina da alma
Descubra o desconhecido
E encare-o de frente.
Beba o suor da guerra
E banhe-se no sangue dos guerreiros
Enxergue a si mesmo no reflexo dos olhos do pavor
E trague as incertezas dos anos rebeldes.
A história fede a ossos velhos.
O potro selvagem é teimoso
Não permite o chicote nem a navalha.
A vida não permite rédeas
"Domar" é vocabulário não revelado
Incompreensível para o ímpeto primevo.
A fusão do divino com a forma de barro.

Já Fomos Uma
Para K.D
De tudo o que sobrou de nós
Reduz-se as fumaças desvanecidas
Em direção à luz escassa de postes antigos
No fluxo e influxo,
No rio da vida que jorra sob o sangue dos mortos...
Pois nós, somos várias.
Múltiplas e abrangentes.
Carregamos nas costas a sina de nossos antepassados
-Benditos e malditos como as palavras de Deus-
Se realizam por nossas vértebras
E sustentam a coroa do mistério.
Em menos de cem anos,
Éramos uma...
Desde o início sem início também.
Em potência que vibrava no fio do destino,
Que metamorfoseou-se em matéria
E nos deu o mesmo sorriso.
A mesma pinta de canto de boca.
O mesmo jeito desajeitado.
Mas naquilo que éramos, sem sermos iguais
Desviou nossa seta em centímetros que no percurso tornaram-se quilômetros.
Somos duas...
E agora, outras várias são uma em nós,
Que dentro de um suspiro de mil anos
Povoarão a terra.

Me perdoe senhor por ser quem sou
Miserável pecadora indubitável errante
O erro me espera no umbral da porta do amanhecer ao entardecer.
Todos os dias, provo de minha própria sina amarga,
A goles secos e tragos intoxicantes.
A fumaça que embaça a vista
Se revolve em gotas de sangue quente
A vida pulula dos poros de dor
E na dor, revela-se vida, verdadeiramente.
Sabe-se que estás vivo quando sofres
E sofrer é saber quem sou.
A cruz é cruz porque compreende
Ampla e perfeitamente o interior do mais nobre sonhador.
Me perdoe senhor por ser que sou.
As caveiras fumam a história de seus descendentes
O tilintar dos ossos ressoam a morte iminente
Dos epitáfios o leitor se apega à mensagem
Como se meia dúzia de palavras compreendessem a alma ainda viva
A morte é o berro dos mudos,
O ouvido dos surdos,
A vingança dos indigentes.
De rei ou ladrão
Seja nobre ou plebeu
A carne é a sobremesa dos vermes,
As tripas suas moradas.
Sob o mesmo chão que pisamos
A história da humanidade jaz enterrada;
e desenterrada.
Mais viva, impossível.
Mas morte, também.

Ontem Deus falou comigo
Veio a mim na forma dum mendigo travesti
Pediu-me um cigarro e dinheiro pra cachaça
E disse que conhecia minhas tristezas
Ontem Deus falou comigo
Eu estava mal
Levando o peso da ausência nas esquinas nebulosas da alma.
Em tom sensível, disse que me entendia
E que era meu amigo
Ontem Deus falou comigo
Não esperava encontra-lo ali
Justo quando me escondia,
Onde fedia a mijo e tinham ratos
Onde a luz era escassa
Ontem Deus falou comigo
Lendo em minha face tamanha tristeza
Confessou que nada podia me dar
A não ser conversa e um ombro amigo para chorar
Mas na verdade, isso é tudo

Tião Sebastião
Para meu avô
São escassas as lembranças que sustentam a tua face
Lembro pouco do teu jeito dócil e dos ombros largos
Típico de guerreiros honrosos
Dos teus olhos vejo no caráter do meu pai
Filho bem criado
Crescido na guerra e cristão de coração,
Como poucos o são.
Apesar da memória fragmentada de ti
Conservo incólume a saudade
E herança sagrada no sangue,
No nome,
Na sina.
Vives em mim
E conduz -sem que eu perceba- a minh’alma para o reflexo místico na pedra de ouro
As tuas santas leituras de camponês simplório
Homem de classe na beirada da cama,
Ainda regam meus pés no caminho da Verdade
És porteiro
E espero ter a honra de ser recebida na pós morte
Por meu antepassado augusto
Tião,
O Sebastião.

Criaste as estrelas regentes
E divinamente escolheste nascer sob suas influências
A luz provinda da Divina Palavra
Iluminou a sagrada boca,
Cuja mensagem clareou a consciência da humanidade
Olhaste a criação findada
E no fim, colocaste o começo
Talhaste especificamente cada seiva
Sabendo qual das sementes
Viria a sustentar Sua carne celeste
Em todo os lugares se introduziu
Mas escolheu sentir-se abandonado na angustia
Modelou cada espaço.
Com os dedos cavou as grutas
Ainda que seu corpo por três dias, viesse guardado repousar
Maravilhosamente firmaste todo o universo
E humildemente foste unicamente firmado por pregos
Regalaste com liberdade a humanidade
Permitindo a morte
Mas escolheste padecer na cruz
Pudeste de cima contemplar o sol e a lua
No entanto, preferiste da relva apreciá-los
Possuindo-se completamente
Doou-se exclusivamente
Calando a morte
Erguendo a Porta da Vida.

Liguei pra ela
Conversamos sobre as roupas que iam para a lavanderia.
Saudade é isso:
Conversar sobre bobeira,
Sobre a casa que foi limpa e deu uma canseira danada,
Sobre a cadela que estava tentando comer com a outra (“vê se pode?!”)
Sobre o bolo que deu muito certo ou muito errado...
No fim das contas
Essas conversinhas são o que refletem a luz do sentido da vida!
Quando, pessoalmente,
Você pode observar a claridade que os olhinhos refletem...
No sorriso de canto de boca entre as piadinhas...
Na mexa de cabelo que o vento jogou pro lado oposto do normal...
Na covinha...
Entre silêncios que o cérebro exige enquanto pensa no próximo assunto,
Você paquera.
Fica namorando sozinha.
E se dá conta que ama.
E como ama...
Ela fala muito mais do que eu,
Muito mais!
Eu fico só escutando, do outro lado da linha
Acenando como cachorrinhos de plástico de caminhão.
Ela está certa, sempre certa.
Mas é meu dever discordar de vez em quando.
Num ímpeto descuidado de firmar a própria personalidade longe do ninho.
Atitude humana...
Demasiada humana.

Ser pega de surpresa
Começou a chover
Vi-me obrigada a trocar o livro pelo guarda-chuva
Parte do caminho estava forrado com pétalas amarelas,
Que contrastaram aos meus olhos, com o cinza asfalto e o negror das nuvens
Assim surgiu curta poesia
Filha de um espírito incomodado
E de uma tarde sem graça e preguiçosa de domingo
A mãe, acompanhada da filha, apontou para o céu, espantada.
Achei graça,
O mesmo tipo de espanto percorre todo o meu corpo e alma quando encaro partes de mim
Ninguém quer ser pego de surpresa durante uma tempestade daquelas.
Mas somos.
Infelizmente ou felizmente...
Deixo a escolha para meus pares
Eu já me acostumei com esses climas loucos de chuvas espontâneas e sóis imprevisíveis
O que ocorre nas entranhas da raça humana é tempestade pior.
E como carrego em mim o ímpeto primevo de Eva e Adão
Reconheço as explosões criadoras que trazem a destruição
Enfim, não me decido se gosto ou não,
De ser pega de surpresa em tempestades...
E você?
Ser pega?
Surpresa?
Ou tempestades?

Quem sabe, ao contemplar a lua
No umbral da porta da casa de Deus
Com uma boa dose de cachaça com limão
Não serei agraciada com uma mensagem sagrada?
Nunca antes, me passara pela cabeça que
Às vezes, a verdade se encontra em coisas aparentemente profanas.
Fiquei ali, sentadinha
Assustei umas três moças beatas que provavelmente
Rezavam.
Quiçá, um anjo enviado por Deus,
Uma teofania poderia ter despertado ante meus olhos carnais
Com uma carta de escriba celeste
Com códigos divinos
Fariam cair as escamas da mentira...
Nada de miraculoso aconteceu
Não conversei com nenhum anjo
Nem mesmo uma cartinha de amor foi-me dada agora, na época de São João
Mas, estive lá, incólume, a contemplar a lua.

10 anos
Parabéns para mim!
Parabéns para nós
Que celebramos os anos da desilusão
Quando as taças cristalinas da inocência ainda eram inteiriças
O destino presenteou-nos com um corte
Na face
No coração
Em cada fragmento da alma
Apresentou-nos a realidade não com abraços e beijinhos
Mas arrancou-nos as cataratas dos olhos com facas enferrujadas
Largadas ao léu,
Empoeiradas com a história da humanidade
Carrego em mim a sina de meus antepassados
O amor e o ódio
A guerra e a paz
Carrego nas entranhas,
No sangue rubro que percorre as veias frágeis
Carrego a santidade de Abel e a inveja de Caim
A pedra da morte está embaixo de meus pés
E o cheiro da gordura queimada já subiu aos céus
Parabéns para mim!
Parabéns para nós,
Que sopramos a vela sádica da boa fortuna
E ousamos com teimosia, fazer um pedido.
Na escuridão
Que a nós sobreveio
Achamos luz apenas no reflexo de nossos olhos
Aceitamos o que nos esperava
Agarramos a rédea de nossas vidas
Extraímos obras de arte de nossas cicatrizes
Troféus os quais apenas nós conhecemos no íntimo
Parabéns para mim,
E para nós!
Que celebramos os anos de nossa desilusão.

Para D.dC.
Se sinto carinho
Quero elevar-te à altura dos anjos
Quero ver-te na glória de Deus
Reluzindo a luz da Verdade
E aquecendo os corações dos homens miseráveis
Desejo que tua inspiração seja a sabedoria,
Que tua expiração seja a paz consoladora.
Pois mundo se beneficia com o amor...
Se beneficia com os Santos que Deus elege
Com os possuídos por alma nobre que alçam a coragem divina perante as sombras das mentiras blasfemadoras
Espero –na esperança da fé- que teus caminhos sejam reluzentes
Que tuas vértebras sustentem um caráter resoluto
Que dos teus olhos minem vida onde há vale de ossos secos
Sejam tuas palavras como fio de espada
E cortem das pobres almas sedentas a ausência do Sagrado.

Escrevi meu nome numa tábua de morte
Chamei-te para ler em alta voz
Silabas que outrora fizeram-te sorte
Cravadas em pedra fria, hoje tiram-te a paz
Cante aos pássaros sob minha sepultura
Recitando versos ditos em momentos de ternura
Tenho que parar de escrever sobre morte.
Já risquei as palavras macabras de minha lista de poetisa
Troquei “epitáfio” por “flores”
“Morte” por “vida”
“Ossos” por (...) sei lá,
“sorvete”!
Palavras assim mesmo
Fofinhas
Pois tenho que parar de escrever sobre morte.
Busco-te nas tarefas honrosas
E mesmo nas ações monstruosas
Quero encontrar-Te
Sedenta vaga minh’alma
Correndo no mundo, sem calma
Chora e tapa com palmas
A face que clama a prece
Cheiros, toques, sabores
Sons provocam-me dores
Cegos meus olhos às cores
Anseiam por luz Verdadeira
Virtudes, pecados entrego
Para quem desenhou o meu ego
Com livre-escolha, (eu) sossego.
Na correria do dia,
Minto as horas entre as buzinas
Finjo saber a escolha de ovos no mercado
Com confiança aperto a fruta mais que o recomendado
O sinal verde brilha vermelho aos olhos apressados
Os passos fortes esquecem do corpo cansado
Vou me viciando em mentiras porcas
Pecando em parcelas curtas
Mas que porra de vida é essa?
Corra alma entre vias curtas!
Dos dias temperados de terror
Onde apenas loucos não surtam,
Pelas manchetes de pavor
Mentiras perambulantes
Vagam livres nas calçadas,
Beijam cornos amantes
De personalidades castradas
O frio riso da vida
Em rostos tristes esculpe mapa
Finge arte em ferida
Por entre os dedos o tempo escapa
Para D.C.R.
Se o fio do destino é incerto
Como o que as ondas trazem à areia fria
Resta à peregrina sonhar acertos
Que a guiem pela vida esguia
Encantos nem sempre frequentes
Se erguem na aurora dos dias
E mesmo se o sol é poente,
O canto ao amor se confia
Pobres pássaros ignorados, no entanto profetas,
Anunciam provérbios sagrados:
-Simples leis se escondem na doutrina secreta,
Do amor que gera o ser, no ser amado.
Pedidos singelos (a Deus), faço por ti,
Que o sol esteja na clave e sempre te aqueça.
De nossa amizade lindas flores colhi:
Lembranças tamanhas, impossível que se esqueça!

(Para minha avó)
Se o passado ao presente se consagra
O agora, como um sol irrompe as horas
O relógio (que se exploda!) só deflagra
A mentira de minutos decorrentes
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Entre o hoje e o eterno, pouco há
Nada além do que o corvo já cantou
"Nunca mais" a gargalhada nem um chá
Para a escrava que ficou só e carente
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Esta roda vaga e triste é o que resta
Para o resto que sobrou dos que já foram
Pobres presos, mal se encaixam numa fresta
Nada enxergam da verdade, são descrentes
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Se me entregas o bastão da raça e a sina
Me libertas desse caos de opções
Tua voz ainda soa e ensina:
- Nessa vida, acredite e siga em frente.